O
SHOW
Mario Augusto Machado Pinto
No camarim, Scherê (assim mesmo) mostrava-se preocupada
com o show da noite, pois verificou que as
pantufas foram confeccionadas fora das medidas
encomendadas, além de apertadas estavam menores; eram tamanho seis, ela calçava
oito, e o feitio – ora o feitio – estava
um horror, material de segunda, cores erradas e sola mal colada. Fim da picada!
Saiu do camarim reclamando em alto e bom som
até a salinha do sapateiro Arrigo lá no fundo do corredor e, já na portinhola,
gritou
— Não
posso usar estas porcarias! Sem elas minhas pernas ficam parecendo dois aipos
cortados. Que faço?
A resposta veio rápida:
— Não
tenho culpa! Joga no lixo. Pra disfarçar a celulite você precisa de meias
elásticas, Arrigo respondeu com calma ofensiva. Dá nome pra elas e põe na sua coleção! Não enche. Você só sabe
reclamar!
Arrigo tocou ponto sensível: sua coleção de
pantufas. Eram cuidadas por ama especialmente treinada para isso, todas tinham
nome e cada uma delas tinha sua vez de dormir com Scherê, ouvir suas confidências e mágoas, colher
suas lágrimas sofrer seus acessos de raiva ao erro ou desleixo da ama.
Recuperaria seu bom humor indo ao studio de
sua amiga Coco Chanel. Aí lembrou-se: ela é tailleur,
não é cordonnieuse, não faz
sapatilhas.
— E
agora?
Como
diz o ditado “ Põe na mão e joga fora! Fora não! Chora com elas na coleção!
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