O DISCURSO DO REI - Oswaldo Romano


O DISCURSO DO REI
Oswaldo Romano                                                                                   

                   O herege, mor da confiança do Rei, postando-se no balcão do palácio, empunhando com arrogância um ímpio bastão, espera o final das notas das trombetas. Assim que elas silenciam dá três fortes batidas com seu aparato nas tábuas do assoalho, e pomposamente anuncia:

         — Sua Majestade o Rei! - Vibram as trombetas - Viva o nosso Rei! Viva o Rei presente e para sempre.

A multidão entusiasmada com o espetáculo aplaude e faz um barulho comovente.

         As trombetas quebram o entusiasmo, e o Rei com seu manto arrastante de cores vivas, camisa bufante e exibindo seu vistoso cetro, impõem-se sob forte ovação. Saudando seu povo, é cortado constantemente por gritos de guerra e aplausos.

         — Súditos! Meus Súditos! Ouçam em silêncio. A lei me favorece torná-los obrigados a atender as ordens da minha corte. Mas não farei isso porque, como verdadeiros servos do Império Romano, atenderão voluntariamente minha convocação.

         Numa só voz ouviam-se urros, gritos, braços em riste, punhos fechados: Ao Rei, ao Rei, ao Rei.

         — Tenho certeza de que de que não o fazem por respeito às chibatas.

         Para esta nova guerra, não tenho nada a oferecer, senão meu sangue, árduo empenho, suor e lágrimas pelas perdas. Quero ser seu Rei vencedor. Responsável na paz como tenho sido, e na guerra, um guerreiro sempre ao seu lado.

         Quero que meu discurso seja a primeira e poderosa arma para não aceitar recusas ou derrotas, mas para encher-lhes de orgulho derrotando o nosso inimigo.
         Sei que todos vocês amam nossa pátria, como eu a amo. Mas estou azoinado porque sozinho nada poderei fazer. Sou uma sombra que o destino me projetou e cai aqui. E vocês um mar de heróis predestinados à guerra. Com amor e bravura defendem nosso reinado. Só a união faz a força. Quero que se unam porque, os que se recusarem serão mortos pelo inimigo que certamente cairá na nossa armadilha.

         Todos nós temos um sonho. Nosso sonho é que nossos filhos cresçam orgulhosos de seus pais. Viverão em uma nação cujos homens serão considerados, estejam vivos ou mortos, heróis que darão ou deram suas vidas, defendendo a família, a nossa terra. Meu valente povo. Os verdadeiros donos desta cidade são vocês.

         Pegaremos em nossas armas. Vamos defender o imbatível Império Romano. Mesmo sendo todos meus vassalos, minha corte dispensa os enfraquecidos. Retirem-se já. Que desocupem esta praça. Este não é lugar para covardes.

         Reconhecida é a valentia do povo Romano. Glorifico ao ver que muitos idosos não se amedrontam.  Estou convicto de que nossos jovens saberão honrar o sangue que corre em suas veias, porque ele também é o sangue do meu sangue.

         Com ele, neste momento, honrando lhes asseguro cortando minha própria carne. Pinto minha espada com sangue, a prova do meu juramento de lutarmos juntos. Conclamo todos para a mais sagrada glória. A gloria da vitória.


         — Viva o Rei! Viva Roma! - Romanos, peguem suas armas. Com Catão na frente, venceremos esta guerra púnica. CARTAGO DEVE SER DESTRUÍDA.

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