O BALANÇO DA CARGA
Oswaldo
Romano
Enquanto a mulher leva lata d’agua na
cabeça, o nordestino usa latas presas uma em cada ponta do resistente galho da goiabeira, a madeira mais dura que cumaru
verde.
Durante muito tempo isso passou despercebido.
Ele estando com a cabeça livre, ali também poderia levar outra lata, a exemplo
da sua mulher.
Os engenheiros que aprofundavam o
açude, se perguntando, tinham receio de questioná-lo, pois poderiam receber uma
resposta a altura, própria do cabra da peste.
Dias foram passando, mas um deles incomodado
com esse fato avaliou que dando essa sugestão, iria ajuda-lo a diminuir suas
viagens. Cauteloso resolveu perguntar primeiro para a sua mulher:
— Oi dona, qual é o seu nome?
— Maria, moço. Só tamo pegando um poco d’agua. O sinhô não
si...
— Claro, dona Maria. O açude é pra isso.
Fiquei receoso de perguntar pro seu marido, mas quero saber, porque ele não
aproveita a viagem e leve também uma lata d’agua na cabeça?
— Não moço! Pergunte pra ele. Ele é homem bão. Eu memo nunca
pensei nisso. Peço prêle falá com sinhô.
Logo o engenheiro foi procurado.
— Sinhô, a muié mi falô. Achei engraçado, até pra responde. Nunca
ninguém perguntou isso. Sabe moço. Meu avô e os mais véios carregavam muita
coisa na cabeça. Lata d’agua, fexe de lenha e tar. Era bão, a mão ficava livre
até pra pitá. Ai proseiam que, um benzedô curandero mando pará. Proibiu.
— Uai. Parar por quê?
— Pra mór de não achata mais nossa cabeça, moço.
Nenhum comentário:
Postar um comentário