MÁRIO
UM EXÍMIO PINTOR
Oswaldo Romano
A gente cruza com Cara de Pau, muito
mais vezes do que pensamos. Esta história do Mário, o pintor, assim é contada,
mas como presenciei, para mim não foi história, e sim a mais pura verdade.
Para o futuro, que começa aqui, alguém
ao repassá-la, deixa de ser verdadeira e nasce o conto de mais uma bazófia.
Mário era procurado e disputado como um
exímio pintor de portas e paredes. Sua fama dobrava quarteirões. Era essa fama
que o sustentava. Enquanto ele levava a reputação, nas obras mantinha o Boia,
um afro descendente se lascando de sol a sol.
Mário rodava as ruas, mas sempre
trocando de bairro. Em cada um tinha seu bar preferido onde não dispensava sua
pinguinha. Sempre alegava ser uma necessidade dos pintores. Tinham que limpar a
guela.
Com essa rotina, engabelava os que lhe
procuravam demorando em ser visto na mesma área.
— Nossa, Mário! Você sumiu! Era
indagado.
— Pois é senhor Alberto, muito serviço,
muito serviço.
— Quero que você pinte umas portas, lá
em casa.
— Pinto sim, senhor Alberto. Caso eu não
possa, levo meu secretário, o Boia e vou dar toda assistência. Amanhã por
exemplo não posso. Vou dar uma
entrevista para a imprensa.
— Muito bom Mário. E qual é o assunto?
Para responder,
enfiou a mão no bolso, tirou um papelzinho e leu:
— Como fazer uma pintura economicamente
durável.
Enquanto isso
ocorria, o Boia se desdobrava todo na obra. Mário aparecia só para entregar o
serviço. Nesse dia Boia não aparecia, Mário dava-lhe folga, e levava todo elogio. Era referencia para as próximas pinturas.
Com o senhor Alberto não foi diferente.
Por vontade dele, foi junto escolher as tintas. Mário mostrando conhecimento,
pediu ao atendente que abrisse a lata para falar das suas qualidades e com uma
espátula mexeu, mexeu, mexeu. Levantando a espátula, mostrava a consistência da
tinta, e deixava escorrer para a lata a grossa composição. O excesso de tinta da
espátula era tirado na borda da lata, mas parte ficava depositada no encaixe da
tampa.
Finalizando, Mário colocou sobre a lata
a tampa, e precisava encaixá-la. À vista dos demais fregueses, quis resolver
dando um soco na tampa. Foi um Deus nos acuda. Espirrou tinta verde por toda loja.
Lambuzou todos, homens e mulheres que aguardavam atendimento no balcão. Com a
maior Cara de Pau justificou:
— Falei senhor Alberto. Essa tinta tem
uma respeitável cor e volume.
— É seu Mário... Muito, muito
respeitável...
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