BATEDORES DE CARTEIRA - Mario Augusto M. Pinto



BATEDORES DE CARTEIRA
Mario Augusto M. Pinto
                                
Você já encontrou ou viu um batedor de carteira trabalhando?

É verdadeira arte!

Há muitos candidatos e poucos são “aprovados”. O “trabalho” é muito exigente e cansativo.

Os locais variam muito, mas em geral deve haver muita gente no espaço escolhido.
Esses profissionais são encontrados em toda parte com movimento, de preferência nas principais cidades europeias, no Leste Europeu, nas Américas.

Sei disso porque numa estação de metro falei com um que falhou em querer me aliviar de algumas posses.  Magricela, alto, vestido simplesmente, aparência comum. Sumia no meio das pessoas.

Trabalhava com mais dois homens e uma mulher. Senti a mão dele e segurei-a fortemente.  Não larguei e pedi calma, sem escândalo. Estava muito sem graça, encabulado mesmo. Eu estava puto da vida, mas me controlei.   Serenados os ânimos perguntei se podia me explicar porque adotou essa profissão.

— Sou de família modesta da Europa. Meu pai chefiava dois grupos e trabalhava com eles.

Bem cedo reparou que me parecia com ele e dirigiu minha educação para a sua profissão.

Praticava exercícios físicos desenvolvendo rapidez: “sprint” e “tocar piano só com doze teclas, sem cordas”.

Explicou: há os profissionais, eu. Você sabe, o corpo humano é muito sensível, daí os exercícios mais demorados com os dedos polegar, indicador e  médio de ambas as mãos; enfia-las em bolsos suspensos em arames e amarrados com fio de seda ou com fios elétricos descascados para dar choque Há também os oportunistas que andam pelas praias roubando bolsas de banhistas adormecidos ou mochilas no chão, abertas, de estudantes que conversam em roda e todos ao mesmo tempo ou malas de viajantes cansados ou distraídos. Tendo muito jeito para a atividade venci em todos os torneios e provas que enfrentei até meu pai dizer “Chega de torneios. Ao trabalho para pagar o que custou”.  Sou profissional. Trabalho há vinte anos; já fui preso ene vezes a ponto de conhecer delegados e com eles conversar e trocar ideias. Não dou nem eles pedem qualquer dica.

— Compensa?

— Sim, compensa. Tenho. boa casa, comida, bebida, mulher e dois filhos Todos sabem o que faço. Um filho quer ser aviador; o outro, seguir meu oficio (sou contrário, não ensinei nada, mas ele “estuda com amigos”). Vamos ver.

Sabe, o barato é procurar, encontrar e escolher o alvo, examinar, pesar as possibilidades, chegar perto, armar o bote, por a mão, puxar a carteira e retirar, passar para o comparsa, examinar a “recompensa”, dividi-la, rir de mais um trouxa. É demais... Sentir a adrenalina entrar e correr rápida no sangue, o coração bater forte na garganta e escutar nos ouvidos o eco das batidas, sentir o gosto de sangue na saliva... Nada se compara com isso.

— Não vou criar caso, falei baixinho, mas quero saber: o que você faz quando acontece algo como agora?

— Bem, não crio dificuldades e não digo nada; peço para que me revistem. Nada é encontrado. Sou liberado. Digo ao ofendido que não se engane mais e que siga com Deus. Desejo mil felicidades, cumprimento a todos e saio de cena rapidinho, rapidinho. Faço feriado por uns dias, e recomeço a rotina.  Até mais ver! Dou um abraço, me afasto, ando um pouco,  volto e digo sorrindo “Senhor, Senhor, olha seu relógio”, justo como agora.  Pega. Não fica chateado. Tchau.




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