Garçom distraído - Suzana da Cunha Lima


Garçom distraído
Suzana da Cunha Lima

Naquele restaurante cinco estrelas haveria um jantar especial naquela noite, os melhores garçons foram deslocados para servir no salão de eventos.

Para atender a demanda, o cozinheiro indicou Francisco para garçom,  um conterrâneo, que apareceu lá de bermudão, camiseta e sandálias de dedo, como se fosse trabalhar num boteco.   Arranjaram-lhe  depressa um uniforme, e lhe emprestaram os sapatos do cozinheiro, que ele reclamou muito, pois lhe doíam os pés.

Francisco era uma boa pessoa, mas não estava familiarizado com o requinte de um restaurante luxuoso.  Porém a dificuldade maior foi ele entender os pedidos do menu em francês. Mas, ele era esperto e sabia escrever o básico, então anotava os pedidos do jeito que ouvia.

Confit de canard – ele anotava: confio canalha
(pato cozido lentamente na própria gordura)

Blanquette de veau -   quieto, vô

Carne de vitela, com cenouras e manteiga, onde não pode faltar berinjela e tomates (blanquette significa que é um prato branco, porque o molho é branco)

Ratatouille – rata tua
(legumes picados, não podendo faltar berinjela e tomate)

Recusou anotar escargot, dizendo que era muito nojento e não serviam aquilo lá.
A cozinha estava maluca com ele, começaram a atrasar os pratos, até que o maitre resolveu deslocar um dos garçons do tal jantar para ajudar no restaurante. Colocaram Francisco para lavar pratos, mas ele nunca tinha visto aquelas gigantes máquinas de lavar louça. Acabou quebrando alguns copos e uma meia dúzia de pratos, que precisavam ser limpos antes de serem colocados na máquina.

A  noite corria e não sabiam o que fazer com ele.

Até que ele mesmo informou que era muito bom mexendo com bebidas.  Sabia muito bem misturar qualquer coisa em suas batidas e drinques exóticos.

Resolveram experimentar. Foi um sucesso! E lá, Francisco nomeava seus drinques como bem entendia: morena gostosa, gravatinha, colarinho verde, decote profundo, e outros nomes  que ilustravam bem suas deliciosas invenções etílicas. 

E, incrivelmente, o restaurante ficou sendo mais conhecido pelo seu famoso barman do que pela excelência de sua cozinha. Pois, além de expert no assunto, Francisco era um bom contador de histórias, e um ouvinte paciente , como deve ser um bom barman.


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