Garçom distraído - Suzana da Cunha Lima


Garçom distraído
Suzana da Cunha Lima

Naquele restaurante cinco estrelas haveria um jantar especial naquela noite, os melhores garçons foram deslocados para servir no salão de eventos.

Para atender a demanda, o cozinheiro indicou Francisco para garçom,  um conterrâneo, que apareceu lá de bermudão, camiseta e sandálias de dedo, como se fosse trabalhar num boteco.   Arranjaram-lhe  depressa um uniforme, e lhe emprestaram os sapatos do cozinheiro, que ele reclamou muito, pois lhe doíam os pés.

Francisco era uma boa pessoa, mas não estava familiarizado com o requinte de um restaurante luxuoso.  Porém a dificuldade maior foi ele entender os pedidos do menu em francês. Mas, ele era esperto e sabia escrever o básico, então anotava os pedidos do jeito que ouvia.

Confit de canard – ele anotava: confio canalha
(pato cozido lentamente na própria gordura)

Blanquette de veau -   quieto, vô

Carne de vitela, com cenouras e manteiga, onde não pode faltar berinjela e tomates (blanquette significa que é um prato branco, porque o molho é branco)

Ratatouille – rata tua
(legumes picados, não podendo faltar berinjela e tomate)

Recusou anotar escargot, dizendo que era muito nojento e não serviam aquilo lá.
A cozinha estava maluca com ele, começaram a atrasar os pratos, até que o maitre resolveu deslocar um dos garçons do tal jantar para ajudar no restaurante. Colocaram Francisco para lavar pratos, mas ele nunca tinha visto aquelas gigantes máquinas de lavar louça. Acabou quebrando alguns copos e uma meia dúzia de pratos, que precisavam ser limpos antes de serem colocados na máquina.

A  noite corria e não sabiam o que fazer com ele.

Até que ele mesmo informou que era muito bom mexendo com bebidas.  Sabia muito bem misturar qualquer coisa em suas batidas e drinques exóticos.

Resolveram experimentar. Foi um sucesso! E lá, Francisco nomeava seus drinques como bem entendia: morena gostosa, gravatinha, colarinho verde, decote profundo, e outros nomes  que ilustravam bem suas deliciosas invenções etílicas. 

E, incrivelmente, o restaurante ficou sendo mais conhecido pelo seu famoso barman do que pela excelência de sua cozinha. Pois, além de expert no assunto, Francisco era um bom contador de histórias, e um ouvinte paciente , como deve ser um bom barman.


“Guerra as CPIs” - José Vicente Jardim de Camargo


 “Guerra as CPIs”                             
José Vicente Jardim de Camargo



Brasileiros e Brasileiras,

Nosso país de dimensão continental com vastas fronteiras terrestre e marítima circunvizinha de um lado dez países soberanos, democráticos e pacifistas e de outro um oceano de calmas e piscosas águas que banham 8500 km de costa de areias finas e brancas, cortada ora por paredões rochosos, ora por rios caudalosos de grandeza mundial, ora por ilhas de deslumbrante beleza.

Engloba em seu seio vários biomas naturais de grande importância para a estabilização do clima terrestre e a conservação da biodiversidade do planeta:

No norte a floresta amazônica, equatorial, chuvosa, praticamente impenetrável e desconhecida, considerada pulmão mundial.

No nordeste o Agreste, divisão entre a mata úmida e o sertão semiárido,  quente, da caatinga sertaneja. Inicio da colonização portuguesa com seus latifúndios açucareiro e cacaueiro provedores da riqueza colonial.

No centro-oeste as planícies do planalto central, celeiro mineralógico, quadrilátero ferrífero de vital importância nacional.

No sudeste a pujança verdejante da mata atlântica, pérola da natureza, amenizando o clima das mega metrópoles nela incrustadas.

No sul a vastidão dos pampas gaúchos unindo céu e terra num fio de horizonte, povoado por famosas colônias agrícolas de imigrantes europeus com seu toque civilizatório.

Essa vastidão territorial é habitada por mais de duzentos milhões de pessoas que exprimem o mais típico exemplo da miscigenação racial entre brancos, negros e amarelos num convívio harmonioso e pacífico.

Porém de há algum tempo assistimos abobados, incrédulos, sem ação, o surgimento silencioso, sorrateiro de um inimigo endógeno, corroendo suas entranhas tal verme cancerígeno.

É mercê afogar esse antro voraz antes que seus tentáculos famintos de poder causem maiores danos a sociedade democrática constituída.

Uni-vos povo brasileiro! Não deixemos que a máscara negra da desordem perturbe a “Ordem e Progresso”, descritas gloriosas no pendão nacional.

Abaixo a corrupção, o desgoverno, a falta de condutas éticas e morais daqueles que tem em suas mãos a governança, o destino da nação e a obrigação de dar exemplo de bons feitos ao povo eleitor ou não.

Tal conduta fraudulenta, esdrúxula se extravasa em manifestações de múltiplos propósitos de difícil separação do joio e do trigo em meio ao vigor compreensível da juventude desapontada, desenganada, traída em seus ideais pacifistas e igualitários de bem estar a todos.

Lembremos neste momento, a frase famosa de um poeta do povo que tantos benefícios já trouxe à nação em eras passadas.

O povo unido jamais será vencido!

Munidos desse espírito, façamos que os bons propósitos saiam vencedores nas eleições que se aproximam...


Abaixo as CPIs que nada trazem que nada contribuem para minimizar os anseios populares a não ser o de aumentar nosso complexo de palhaços “Vira-Latas”!

MEU SEGREDO, MUITO BEM GUARDADO - Oswaldo Romano


MEU SEGREDO,  MUITO BEM GUARDADO
Oswaldo Romano            
                                                     
         Sou livre. Não tenho compromisso com mulher, muito menos com polícia, nem com ninguém. Mas não deixam de constantemente me assediarem, todas às vezes confundindo ora como procurado, ora como artista de novela, como politico, enfim, tenho a cara marcada pelo destino.

         Os que mais me incomodavam eram a Polícia Política e Civil. Precavendo-me, portava todos documentos, exagerando levava até o registro de nascimento.        Sempre que abordado por meganhas, eu era pressionado para revelar qual era o Famoso Segredo. Tentei alguns disfarces naturais, como barba, bigode, cabelo- foram inúteis. Estava mesmo predestinado.

         Não sei, e nunca tive o tal segredo procurado. Passei a ter medo, assim como, do rumo que nossas autoridades vinham tomando. Imaginei ser algo muito secreto, talvez uma revolução. Os políticos no poder, querendo eliminar a liberdade dos cidadãos levava-nos sentir o terror de uma nova ditadura, e pelas  consequências seus porões, seus  Dois Codis.

         Resolvi fugir para a África. Fugir de um país corrupto, para ir noutro não menos corrupto, mas que voluntariamente abriga no seu território os incríveis Zulus. Em nome do Shaka, permaneci em Zimbábue.

         Aceito na sua tribo, vesti-me com seus trajes e adereços. Mascarado, hoje sou um imbatível demônio, mas feliz com as armas e a nova aparência.


         Que venham agora os idiotas. Quero lhes contar qual é o  meu segredo.

O discurso do Rei - Fernando Braga


O discurso do Rei
Fernando Braga

Meus súditos, a guerra está declarada, pronta a ser deflagrada! Agora não podemos dar passos para trás, voltar, apenas para frente, em direção a uma difícil, mas esperada vitória. Nosso inimigo contumaz, ameaçador, cruel, incansável em seus propósitos, está em nossa fronteira setentrional, ao norte, pronto a cruzá-la, nos atacar, e entrar em nosso país. Todos os esforços de nossos diplomatas foram em vão, inúteis, eles querem nos anexar. As nossas colunas estão preparadas, prontas para rechaçá-los. Vocês devem estar preparados para tudo, para o grande desenlace, para sofrimento atroz, que certamente virá, para a necessidade vertical, inédita, chegando à fome, para perdas importantes de vida queridas, perda de seus bens e toda sorte de intempéries. Temos que lutar! Lutar! Lutar! Até o fim, até que o inimigo seja derrotado, expulso de nossa fronteira. Temos um país unido, coeso, homogêneo em raça, língua, preceitos e mais que tudo, sabedor de seus direitos frente às outras nações. Somos uma nação economicamente estável, com povo culto e pacífico. Nosso inimigo não tem as mesmas boas qualidades, são agressivos, conquistadores e querem nos massacrar. Estamos aguardando ajuda de outras nações, mas temos que nos defender, impedir que destruam nossas vilas, cidades prósperas, nossos campos produtivos, belos, floridos, presenteados pela natureza pródiga, variada, divina. Faço um apelo, uma peroração para que o povo se una nas cidades e nos campos, fazendo que cada casa das vilas se torne um reduto de contenção do inimigo, que trabalhadores e camponeses formem grupos coesos, portando foices, machados, ancinhos, lanças, tudo que tiverem às mãos, para fazer frente ao inimigo invasor. Lembrem-se os que sobreviverem, de que nosso país é eterno, único, inconfundível e que terão a incumbência de reerguê-lo, reconstruí-lo, recupera-lo, para voltar a ser o mesmo país de então, e para principalmente, recuperar a grande dignidade deste povo.

Sou vosso rei, sei quanto me estimam, me amam e quero que saibam que cada um de vocês, considero como meu irmão, prontos a se sacrificarem pelo seu rei e pela sua querida, veneranda pátria.

Neste momento tão difícil de nossas vidas, vejo-me obrigado a me retirar, com minha família para terras longínquas, para sobreviver, preparar uma grande reação e poder voltar breve a este país, que tanto amo, adoro, venero e para aqui, viver novamente. A nau nos espera, temos que partir. Até a volta querido povo, querida pátria e aguentem firme!! Passo agora, as palavras, para o primeiro ministro, que ficará responsável pela defesa do país.

Adeus! Adeus!



Discurso proferido por Lula III, ao deixar sua pátria Brasinéia em novembro de 1366.

QUASE A 4ª VEZ - Mario Augusto Machado Pinto


 



QUASE A 4ª VEZ
Mario Augusto Machado Pinto


..28,29,30 passos.

Posso ir de olhos vendados. Já curti isso vezes sem conta. Pronto! Afastam a poltrona e eu me sento.  Os moveis estão sempre no mesmo lugar, os estofados com o mesmo pano e o mesmo pó...
A sala continua igual. Piso acarpetado, um persa por cima (!), moveis Luiz 14, pinturas diversas (uhn, como mandei, tiraram meu retrato), sofás, poltronas, mezinhas.  Enfeites? Trocam sempre. Flores? Só camélias. Por quê? Me gustan! Ainda bem que tiraram o lustre imenso do teto. Poderia cair na minha cabeça. Sou testa dura, mas não aguentaria.  Agora há luz indireta, ar romântico.

Ninguém acredita, mas eu escrevo meus discursos. Releio minha fala de hoje:

-MEUS QUERIDOS AMIGOS DE SEMPRE!
VAMOS CONVERSAR SOBRE ASSUNTO IMPORTANTE E GRAVE QUE POSSIVELMENTE TEREMOS QUE ENFRENTAR EM BREVE FUTURO!!!

Aqui venho três vezes ao ano (quase sempre): festa da nossa Independência, meu aniversário e 1º de janeiro. Por que 1º de janeiro? Ora, é o dia de desejar Bom Ano Novo aos meus súditos! E o 31 de dezembro? É Ano Velho! Basta os que já tivemos!

Que bonita tarde! O por do sol aqui tem cor diferente, é amarelado com nuances azulado. É anunciado alegremente pelo canto das aves colorindo nosso céu de cores que lembram as do arco-íris.         
Lembranças... Saudades de você, Karol... O primeiro beijo... Desagradável vir aqui, hoje, provocando a 4ª vez... Não  posso aparentar tristeza ou desânimo...em voz baixa, ler, ler para bem dizer...Continuo lendo:

-Eu e mais os três Chefes de Estado vizinhos chegamos de cinco dias de extenuantes reuniões em Haia para tratar das descabidas exigências comerciais de Maulo, há vinte e dois anos ditador da República de Recao (entre nós, Rerê).

Nós quatro ainda somos países de economia agrícola. Temos tratados comerciais que preveem  exportarmos metais, diamantes e terras raras a Recao. É só o que temos. Sua venda é feita a preços do mercado internacional. Isso nos proporciona recursos para aplicar em aperfeiçoamento do ensino e educação, enviar os melhores estudantes ao exterior, cuidar da saúde de todos nós, estender saneamento básico a toda Nação. Fazemos isso agora, mas Maulo quer porque quer que setenta por cento do valor que exportamos a Recao sejam destinados a importar bens que reexporta: veículos de passageiros (quase todos andamos descalços), geladeiras (não temos tantos alimentos para guardar ou congelar), aparelhos de TV (só há TV Educativa para as escolas), combustíveis (são poucas as ambulâncias), itens militares (não temos forças armadas) e outras loucuras, como material atômico!!! Atômico! Imaginem!



Há meses estava tão preocupado com a agressividade do que Maulo chama de diplomacia que após acordo com os nossos vizinhos encarreguei  nosso embaixador na ONU propor uma reunião informal com os membros do  Conselho para auscultar suas opiniões sobre o “Caso Recao”. Foram quatro votos condenando as atitudes de Maulo e uma abstenção. Quatro a zero! Não esperava tanto.
A seguir tenho que ser enfático. Convincente!

Não aceitamos que quatro países tenham que enfrentar militarmente a outro que inicialmente, pela força  econômica, quer  impor sua vontade politica a seus vizinhos. Nem a outrem. . A exemplo de Costa Rica, não temos forças armadas; também não temos presença politica universal nem foguetes para lançar artefatos com bombas atômicas ou não. Há que respeitar o Direito e o desejo de resolução de problemas sem ameaças à Paz entre as Nações.

Nesse instante devo dar uma paradinha de efeito. Pigarrear e continuar:

Para resolver as controvérsias temos instituições que nós, Nações, criamos para esse fim.
Não concordamos com o uso da pressão diplomática.

Esperarei mais um pouco para dar o golpe politico final.
Faço algumas considerações sentimentais, clamo pelo entendimento entre as Nações, nossa gente que só tem a perder com nossos desentendimentos.  As criancinhas, os idosos, etc. Às vezes é preciso usar disso aí, mas a tempo e hora. Quem me conhece sabe.
Então, continuo:

 Nossas contrapropostas foram simplesmente recusadas. Seremos invadidos, obrigados a provar o fel da iniquidade, engolir nosso orgulho, ter vida desonrosa ou matar e morrer. É o que queremos? Não!
Então, nós, as quatro Nações teremos que nos engajar e preparar nossos súditos amigos para a guerra.
Nesse sentido, declaramos aqui e agora, Estado de Beligerância com a República Recao.
Como sinal de boa vontade e amizade contínua, meus amigos, propomos ao nosso vizinho...

Interrompo meu discurso e faço sinal para meu Ministro do Exterior dizer perto do microfone:
-Aqui estão os documentos de sessenta e duas Nações apoiando nossas alegações e propostas para a solução do impasse nas negociações. É apenas o inicio... Estão chegando mais...

Tendo às mãos o maço dos documentos, digo modestamente, mas com orgulho triunfal:

... Que aceite nossas propostas. Temos certeza que as aprovará.
Meus queridos cidadãos: voltarei em primeiro de janeiro do ano que vem assegurando-lhes a Paz e a Felicidade que hoje lhes ofereço.

Não me ocorre dizer mais nada.
Faltam mais quinze segundos. Pigarreio, bebo um pouco d’água, olho o teto...
...Três, dois, um...VAI!!!
Começo:


MEUS QUERIDOS AMIGOS DE SEMPRE!...

O REINO DE UM REINADO DE REI - Maria Luiza C.Malina


O REINO DE UM REINADO DE REI
Maria Luiza C.Malina

Frente ao eminente anúncio de guerra, Phillip o rei amado e respeitado entre os fiéis súditos, reflete sobre as artimanhas do inimigo sanguinário. A tensão modificou a vida tranquila do império.

Sons de metais cortam o dia levantando faíscas de determinação. Elmos a postos. Cavalos relincham a coragem para o preparo do confronto, durante a troca das ferraduras gastas no plantio.

Todos, do mais simples servil ao mais próximo dos fidalgos, sem exceção, aguardam ansiosos as instruções do fraterno Rei.

- Amigos do Rei. É assim que devo tratá-los. Nestes anos em que herdei dos meus ancestrais este reino, dando continuidade fiel aos preceitos tradicionais familiares, tornando esta terra saudável e rentável, através das mágicas mãos de cada um de vocês. Suas esposas transformam os produtos da terra em ouro, respeitando cada grão plantado, produzindo alimentos nobres, livres de qualquer contaminação. Ouço as doces canções do período da colheita do trigo. Alegro-me com as chacotas entre os homens durante o preparo da terra e da maceração do vinho. As crianças que correm soltas à tenda do saber, com pequenos manuscritos à solta, junto aos meus filhos.

Estamos frente a um inimigo cujas terras secas da falta de interesse, da descrença entre seu próprio povo, nada produzem além da preguiça da miséria, uma estagnação própria de quem não quer aprender, vivem uma vida de observação alheia. Se nada fazem, nada tem. Mas tudo querem.

Amigos!  Na taberna das noites escurecidas pelo açoite do frio, aperfeiçoei-me junto a vocês, na estratégia do xadrez. Sinto-me honrado, por ter percebido o quanto estavam ávidos pelo saber. Alegres, brindamos e bebemos nossas vitórias, o fracasso do perdedor era a lição para a próxima batalha. Junto à olaria fortificamos nossas torres. Não deixemos que tudo venha abaixo, consumidos pelo medo da incerteza dos que desejam abater-nos.

O tempo nos pressiona. A linha de frente deve acreditar na defesa de seu Rei. Não se desviar do foco. Lembre-se, que por mais servil que seja a posição, com uma boa estratégia você derrubará o soberano soldado desatento e, será beneficiado com um lugar de honra junto ao seu Rei.

O adversário deve ser respeitado, pois tem sua estratégia.

O que nós temos é a autoconfiança na firme criatividade do livre pensar com responsabilidade, nas consequências de uma tomada de decisão.

- À VITÓRIA!  O brado exultante do Rei é atendido.

- AO SENHOR! VIVA O REI! Ecoam pelos vales serpenteando o império, as vozes repetidas dos valentes soldados, em tom de marcha, primeiros clarões na manhã escurecida pela fumaça das chaminés.

A batalha é iniciada corpo a corpo em pronto embate.

Uma surpresa. A pouco mais de 300 metros a tropa adversária recua. Num repente, um clarão. O sol ofusca lhes a visão. A vitória foi taxativa. Cavalos empinam-se, derrubando-os uns aos outros, soldados confusos gladiam entre si.

Desta forma, a força da verdade de luta para a preservação de um império de paz, sucumbiu um exército.
- VIVA O REI!  



O pôr do sol - Fernando Braga


O pôr do sol
Fernando Braga

Tive a oportunidade de presenciar a vários famosos pores de sol, como na Big Island no Hawai,  em Key West na Flórida, na praia do Jacaré em João Pessoa, ao som do Bolero de Ravel, na Baia de Guanabara, mas acho, que não perde, do que pode ser visto em meu sítio.

Do alpendre da casa, se estende uma grande baixada, com grama bem cortada como em um campo de golfe, continuação um grande lago, seguido por uma mata. No horizonte, tendo esta paisagem na frente, podemos observar um pôr do sol maravilhoso, magnífico, grandioso. Quando o dia está  claro, o sol quando baixa ao nível do horizonte, se torna enorme, bem amarelo, depois avermelhado, esconde sua parte inferior e depois, lentamente o resto, até desaparecer. Neste momento, a nuvens distantes se tornam multicolores, avermelhadas, em seguida começa a escurecer. Neste momento, erguem-se do lago, centenas de aves grandes, brancas, que dirigem-se, em bando bem formado para longe, onde vão se recolher. São as garças, maravilhosas, organizadas, com suas guias na frente. Após mais alguns minutos, a noite chega e com ela o silêncio, as aves se acomodam nas arvores, as galinhas nos poleiros, as vacas deitam-se no campo, e se pode ouvir ao longe somente vozes humanas longínquas. Quando assisto a um episódio como este, sinto uma sensação de magnitude incomparável, de grandeza, de potência, mas ao mesmo tempo uma sensação de tristeza acabrunhante, como se algo estivesse terminando. Foi mais um dia que se passou, que para as crianças e jovens, não tem o mesmo significado do que para aqueles, já na chamada idade de ouro, os idosos, que acham que, a qualquer hora tudo vai acabar, o que é realmente desconcertante.

Certa ocasião estava na varanda de meu sitio, em companhia de meu neto de 13 anos. Chamei-o para vermos juntos, o pôr do sol. O dia havia sido chuvoso, mas no final da tarde, as nuvens diminuíram, o sol reapareceu, forte. Meu neto ao se aproximar, logo chamou a atenção para o arco-íris presente. Víamos então o belo pôr do sol e um grande arco íris. Perguntei a ele, se sabia por que se formava o arco-íris. Respondeu que era a luz do sol atravessando a água. Falei que estava certo, mas como explicar as cores do arco íris. Disse não saber. Expliquei a ele que os raios de sol atravessando a atmosfera úmida, cheia de gotículas de água, sofria uma refração da luz, decompondo o raio solar em 7 cores, que ia do vermelho ao violeta. Era o fenômeno físico da refração da luz branca, que continha em si as 7 cores, o que foi descrito por Newton, um cientista inglês, quando fez a luz branca atravessar um prisma.

 Disse a ele que o arco-íris era apenas uma ilusão óptica. Muitas vezes, você pode ter dois, três e mesmo quatro arco-íris paralelos. Em seguida, falei uma pequena parte do poema de Wordsworth sobre o arco-íris: meu coração pulsa quando vejo o arco-íris. Assim foi, quando minha vida começou, assim foi quando me tornei um homem e assim será quando envelhecer e morrer. Meu netinho neste momento comentou:
— Como você é inteligente vovô! Respondi que, quando tinha sua idade, talvez soubesse menos do que ele hoje. Perguntei:

— Você sabe por que o diabo é sábio?

— O diabo é sábio, vovô?

— Claro que ele é sábio, pois queria fazer frente a Deus!

— Porque ele é sábio?

Respondi:


— porque ele é velho!!!!  Sou velho, sei mais!!

AVANTE! - Suzana da Cunha Lima


AVANTE!
Suzana da Cunha Lima

Povo de Santiago!.

Sempre estivemos juntos, tanto nas horas felizes quanto nas dificuldades, tristezas ou catástrofes.

Lembram-se quando a praga do milho acabou com a safra, ou quando o rio transbordou e alagou toda a pastagem do gado?  Valentemente, unimos nossas forças e trabalhando juntos conseguimos reverter a situação. Já temos um dique que não permite mais inundações e chamamos um agrônomo para buscar espécies de grãos  mais resistentes.

Seu rei não descansa um minuto, sempre pensando em melhorar a vida de seu povo e preservar nossas belezas naturais. Nosso reino foi abençoado por Deus com belíssimas lagoas e cachoeiras e um maciço de montanhas cobertas de florestas exuberantes que garante a boa qualidade de nosso ar.

E o grande e caudaloso rio que corre pelas nossas terras é uma dádiva de Deus. Além de servir de meio de transporte, suas margens são fertilizadas pelo seu húmus, na época das cheias, permitindo toda espécie de plantio. E temos tudo que o turista ama, inclusive sol quase o  ano todo.

No entanto, nosso belicoso vizinho, invejoso de nossos recursos, e da boa qualidade de vida de nosso povo, resolveu nos provocar de maneira que não podemos tolerar. Desapropriou nossa refinaria, sem nenhuma compensação financeira, fechou a tubulação do gás que nos fornecia  mediante contrato válido, e derruba nossas árvores fronteiriças, a maioria de bom mogno, sem pedir nenhuma autorização. Já mandamos guarnições armadas para proteger nossas fronteiras, mas o vizinho recua na hora que chegamos e invade quando nos retiramos,  num jogo de gato e rato insuportável para nossa soberania.

Já esgotamos todos os recursos diplomáticos e apelos ao bom senso. De modos que, caros amigos, é hora de juntarmos nossos esforços e formar uma força guerreira que não permita mais, de maneira alguma, estas incursões não autorizadas em nossas terras, tão laboriosamente cuidadas e protegidas por nós.
Já enviamos um comunicado formal ao chefe daquele país, informando que consideramos estas atitudes, em tudo contrária à boa vizinhança, uma provocação que clama por guerra.   Estou esperando a resposta, mas desde já informo a todos que haverá um confronto.  Vamos fazer a chamada dos reservistas e iniciar o trabalho de guarnecer as fronteiras. Também abriremos cursos rápidos de atualização de armas bem como práticas de pronto-socorro.

Nunca fomos invadidos por ninguém e também sempre respeitamos as divisas de outros povos. Não há de ser este reino presunçoso e arrogante que vai nos derrubar.  Conto com vocês, com o brio e dignidade inerentes  ao nosso povo, que jamais se deixou abater, para que vençamos mais esta batalha.

Avante, povo de Santiago!

O DISCURSO DO REI - Oswaldo Romano


O DISCURSO DO REI
Oswaldo Romano                                                                                   

                   O herege, mor da confiança do Rei, postando-se no balcão do palácio, empunhando com arrogância um ímpio bastão, espera o final das notas das trombetas. Assim que elas silenciam dá três fortes batidas com seu aparato nas tábuas do assoalho, e pomposamente anuncia:

         — Sua Majestade o Rei! - Vibram as trombetas - Viva o nosso Rei! Viva o Rei presente e para sempre.

A multidão entusiasmada com o espetáculo aplaude e faz um barulho comovente.

         As trombetas quebram o entusiasmo, e o Rei com seu manto arrastante de cores vivas, camisa bufante e exibindo seu vistoso cetro, impõem-se sob forte ovação. Saudando seu povo, é cortado constantemente por gritos de guerra e aplausos.

         — Súditos! Meus Súditos! Ouçam em silêncio. A lei me favorece torná-los obrigados a atender as ordens da minha corte. Mas não farei isso porque, como verdadeiros servos do Império Romano, atenderão voluntariamente minha convocação.

         Numa só voz ouviam-se urros, gritos, braços em riste, punhos fechados: Ao Rei, ao Rei, ao Rei.

         — Tenho certeza de que de que não o fazem por respeito às chibatas.

         Para esta nova guerra, não tenho nada a oferecer, senão meu sangue, árduo empenho, suor e lágrimas pelas perdas. Quero ser seu Rei vencedor. Responsável na paz como tenho sido, e na guerra, um guerreiro sempre ao seu lado.

         Quero que meu discurso seja a primeira e poderosa arma para não aceitar recusas ou derrotas, mas para encher-lhes de orgulho derrotando o nosso inimigo.
         Sei que todos vocês amam nossa pátria, como eu a amo. Mas estou azoinado porque sozinho nada poderei fazer. Sou uma sombra que o destino me projetou e cai aqui. E vocês um mar de heróis predestinados à guerra. Com amor e bravura defendem nosso reinado. Só a união faz a força. Quero que se unam porque, os que se recusarem serão mortos pelo inimigo que certamente cairá na nossa armadilha.

         Todos nós temos um sonho. Nosso sonho é que nossos filhos cresçam orgulhosos de seus pais. Viverão em uma nação cujos homens serão considerados, estejam vivos ou mortos, heróis que darão ou deram suas vidas, defendendo a família, a nossa terra. Meu valente povo. Os verdadeiros donos desta cidade são vocês.

         Pegaremos em nossas armas. Vamos defender o imbatível Império Romano. Mesmo sendo todos meus vassalos, minha corte dispensa os enfraquecidos. Retirem-se já. Que desocupem esta praça. Este não é lugar para covardes.

         Reconhecida é a valentia do povo Romano. Glorifico ao ver que muitos idosos não se amedrontam.  Estou convicto de que nossos jovens saberão honrar o sangue que corre em suas veias, porque ele também é o sangue do meu sangue.

         Com ele, neste momento, honrando lhes asseguro cortando minha própria carne. Pinto minha espada com sangue, a prova do meu juramento de lutarmos juntos. Conclamo todos para a mais sagrada glória. A gloria da vitória.


         — Viva o Rei! Viva Roma! - Romanos, peguem suas armas. Com Catão na frente, venceremos esta guerra púnica. CARTAGO DEVE SER DESTRUÍDA.

O Mercador - Vera Lambiasi


O Mercador
Vera Lambiasi

Kamal vivia em cima de sua loja de tapetes, no Bazaar de Marrakesh.
Do francês ao árabe, tentava todas as línguas.
Herdara sua aptidão para vendas de seu pai, seu avô, bisavô.
Bem alimentado pelas mulheres da família, seu corpanzil estruturado, encantava turistas estrangeiras.
Suas vendas, deixaram-no rico, mas não havia descanso, nem desvio em sua rotina.
Dedicava-se aos persas e kilins do raiar do dia ao ocaso.
Solteiro, perambulava só, pelas vielas caiadas, apinhadas de barracas.
Observado pelas moças casadoiras da colônia, fugia de etnias conhecidas, para se deliciar nos corpos de incautas viajantes.
Após fechar a banca, banhava-se em perfumes, e começava com um drink no bar do hotel de luxo.
Amigo dos garçons, tinha todas as informações que precisava para a paquera de suecas e norueguesas, as mais famintas por sua pele morena.
Conquista fácil, dali para o jantar de carneiro, cuscuz marroquino, tâmaras e damascos.
Kamal jamais apaixonava-se, e não sentia-se preso a essas mulheres passageiras.
Servia o chá de menta, amava-as, e se despedia no início da madrugada.

Rania, sua prima distante, do comércio de tecidos, era moderna, vivia na Índia, e, de lá, negociava toneladas para saris coloridos.
Raramente se viam, em festas de família, cumprimentavam-se fraternalmente.
Já havia se casado certa vez, o que não durara um ano.
Divorciada, sem filhos, gozava de uma liberdade estranhada pelos parentes.
Kamal a respeitava pelo trabalho, mas não se interessava pelo seu coração.
A moça era bonita, pele escura, olhos claros. Magra, alta, cabelos lisos e negros.
Um par exemplar para multiplicação, ignorado por ambos.
A família acabara por atrapalhar seus olhos, com insinuações de namoro na adolescência.

Não viam-se há meses, quando Kamal foi para o seu bar, a procura de suas aquisições estrangeiras.
Logo ao entrar, avistou a morena bem vestida, de roupas ocidentais.
Estava sentada no balcão, conversando animadamente com outra garota.
Vista de costas, seus cabelos volumosos chamavam atenção sobre uma blusa amarela. Era inebriante a alternância das cores. E enquanto balançavam, todo o corpo viril de Kamal tremia.
Sem, nem mesmo ver o rosto daquela deusa, já enlouquecia.
Precisava conhecê-la.

A moça, virou-se distraída, e veio a surpresa.
Tratava-se de sua prima, executiva em um país distante.
Mas estava diferente, rosada, charmosa e saudável.
Sua conversa com a amiga, interrompeu-se por um instante, ao constatar o cavalheiro a encarando.
Rania não acreditava que era seu primo, comerciante do mercado. Aquele sujeito bronco mal a cumprimentava.
Ficou encantada com sua aparência em um jeans bem passado, camisa branca, e blazer.
A amiga, logo se interessou, causando imediato ciúme.

Finalmente, olharam-se como homem e mulher, longe da família agourenta, que, de tanto insistir, fê-los odiarem-se.
Naquela noite, após o bar e o jantar, Kamal serviu o chá, e subiu para a suíte mais luxuosa, carregando Rania em seus braços.
Amanheceram juntos, para seguirem ao Bazaar de mãos dadas.
A família, ainda teria muito o que comemorar.

E os negócios, prosperariam sem igual. 

Discurso de Charlie Chaplin em "O grande ditador"

Su Excelencia - Discurso Cantinflas

O AMOR POR NOSSA TERRA - Carlos Cedano

 

O AMOR POR NOSSA TERRA
Carlos Cedano

A através de edito real foram convocados todos os moradores do reino. O documento tinha tom de urgência e pedia o comparecimento massivo e pontual da população. No dia do evento, domingo chuvoso e frio, a multidão estava ansiosa e curiosa sobre o possível motivo da convocação: os impostos serão aumentados? Será anunciado o casamento do príncipe herdeiro? Alguém da família real esta gravemente doente? Ninguém tinha certeza do possível assunto, tudo eram especulações e, em muitos casos, fantasiosas.

O clarim anunciou a presença do rei Herbert 1º no balcão principal de seu bonito e simples palácio, ele estava coberto por um belo manto, porém modesto. O Rei foi direto dizendo:

— Tenho más e tristes noticias pra vocês meus queridos súditos. Ontem recebi comunicação ameaçadora do Príncipe Rufino, nosso vizinho  Leste, reivindicando a posse de imensos territórios nossos situados na outra margem do rio Arnês. Segundo ele, essas terras lhe pertencem por direito divino como a Bíblia e a historia o demostram. O Príncipe também estabeleceu um prazo inexorável e definitivo de duas semanas para responder que reconhecemos os seus supostos direitos. Caso a resposta seja negativa simplesmente seremos invadidos e subjugados.

Elevando um pouco a voz e a firmeza de suas expressões o Rei disse para seu povo:

— Somos um reino pacífico e tolerante, que acredita na amizade entre os povos que ama a liberdade. Também somos um povo que se orgulha de ser trabalhador, que conta com cidadãos respeitosos das leis, de suas tradições e de seus valores. Além disso, e isso é o que está em jogo, somos herdeiros de uma terra que nossos antepassados conquistaram. Terra rica e generosa, bonita e privilegiada pela natureza e, portanto, temos o dever supremo de defendê-la e preserva-la em toda sua integridade caso contrário, as gerações futuras nos julgarão.

O Rei cansado parou brevemente seu discurso e percebeu que o silencio atento de seu povo significava uma enorme disposição para apoiá-lo. E continuou seu discurso:

— O Príncipe Rufino nos diz que possui um exercito de cinco mil homens bem disciplinados, fortemente armados e de obediência cega a seus comandantes. Mas, eu digo-lhes que eles possuem um grave defeito: são mercenários sem força moral, sem amor pela terra porque eles não possuem nada além do estímulo do dinheiro. Enquanto nós, somos daqueles homens que possuem a certeza da razão, a valentia e a coragem dos que têm uma relação de amor e raízes profundas no chão onde nasceram, se criaram e onde serão enterrados. Por isso, somos mais fortes e ousados.

Uma dúzia de dias depois o Príncipe Rufino invadia o pequeno reino mostrando e ostentando seu poderio. Inicialmente a batalha foi dura mais o exercito do Rei mostrou uma enorme criatividade surpreendendo continuamente o inimigo e dificultando muito seu avanço que inicialmente foi presumido como fácil pelos invasores. À medida que passaram quase quatro messes, os comandantes do exercito do Príncipe comunicaram-lhe que teriam que rever os planos e os recursos a serem empregados já que não se tratava de uma simples batalha, seria uma guerra de longa duração o que exigiria recursos adicionais enormes tanto em homens como em dinheiro. Além disso, o Conselheiro do Príncipe informou-lhe que os outros reinos e principados estavam reunindo-se para pressiona-lo e obriga-lo a parar com essa guerra  que não obedecia à outra justificativa que não fosse uma desmedida ambição de conquista e poder. Perante essa perspectiva o Príncipe achou que seria mais prudente retirar-se do conflito, porém com um acordo sem vencedores nem vencidos. Com a participação de um Comité de Nobres de diferentes lugares, foi elaborado e assinado um armistício de paz em que entre outras vantagens para o reino atacado, garantia definitivamente sua integridade territorial.

Apesar das perdas matérias e humanas o Rei Herbert 1º constatou, que aos poucos e com o decorrer dos anos, ocorreu forte progresso no reino, sentia seu povo mais orgulhoso e confiante em si mesmo e com uma coesão social ainda mais forte. O Rei sorriu pra si mesmo satisfeito e pensando: eu já posso morrer tranquilo e realizado! Virou o rosto e contemplou a alegria de seus netos brincando felizes e sorridentes e disse também pra si mesmo:

— Viu Herbert? Pode mesmo!



ECOS DA ILHA - Maria Luiza C.Malina

 


ECOS DA ILHA    
Maria Luiza C.Malina

 A porta da memória esquecida abre-se para o entardecer da vida, de uma aliança apagada no frio da estrada azulada que separa o continente, da ilha.

O nada enriquece a visão ardente da ilha em seu momento desnudo de prazer.

O sol ardente, alimentando-se das últimas gotas de suor do jovem sedento pela maior onda, reflete nas águas a cor do ouro, enchendo os olhos esmeraldeados da cabocla, recostada à janela, suspirando pela brisa macia, clamando por palavras abafadas.

Ondas supérfluas compactuam com as vozes arenosas no seu calmo quebrar. Produz o som seco de um tambor em final de tarde, abraçando mais uma noite de grandes segredos que ecoam pela ilha.

O silêncio das praias desertas sugere um caminhar solitário. Os pensamentos esbranquiçados esvoaçam rumo ao nada. A ave perdida pousa calma, beliscando a areia risonha à procura de alimento. Outras chegam leves. A paz ensurdecida é quebrada pelo estalo de um chamado ao longe.  

É a hora da Ave-Maria. Tudo se acalma. O tempo se alinha.


É o fim do sol, que ainda persiste a piscar entre as nuvens. O derradeiro calor atordoante de um beijo inesperado à terra.