CORRENTES
QUEBRADAS
Mario
Augusto Machado Pinto.
Lá vem o padin novo. Qué postá que vai
pidí prá eu contá a istória?
—Boas, “seu” Vatame...Queria ouvir a
sua estória do...
— É Vatami,iiiii! Me chama de Vatá! Dá
u ´maço! (Num falei? Ele quer...)
-Trabaiava no frutero do Corné. A fia dele tava junto
d´eu. O Corné dizia prela ensiná nóis pra mór de falá direito; assim sôbe muita
coisas: ela dizia que nas outra prantação os nego tava sempre sôrto e
preguntava se eu queria ficar sôrto. Sim, craro, disse. Óia, eu num tenho mais
corrente. Aí falou que entonces vou ajudar todos vocês.
Nóis falava, combinava, tratava, mais
sempre tinha coisa que pegava. Exempro: a cachoeira no mar perto da gruita do
bocão do tubarão no morro dos morcego. Vô tê que oiá.
Uá noiti amarrei uá corda na barriga,
entrei nágua. Arguns amigo ficô segurando a corda e eu andava prá dentro do mar
até vê o areão da cachoera. Não precisô nadá. Dava no peito. Entonces pedí pra
me puchá de vorta e contei preles. Combinamo de trabaiá a novidade. Um dia se
reunimo e combinamo o que fazê: escondê o martelete prá cortá corrente, dois
barco prá i embora, corda, água e leite prás nena. A fia do Corné ajudô cô’isso
aí. A gente se ia na sesta lua despois do Corné drumí.
Nóis fizemo tudo direitinho,
ajustadinho, sem gritaria, correndo. Cortamo as corrente longe da casa grande.
O mar tava carmo, mansinho. Fumo pro
primero barco, o dos home. O segundo foi o das muié e quatro homi. A fia do
Corné ajudô muito, eu via. Eu não ví quando empurrou o barco das muié; tava de
costa c´o leme. E lá fumo nóis. O pessoá “remava” c´oas mão. Despois de um
tempo preguntei donde tava ela.
-Tá lá na bera d´água.
Num creditei. Larguei o leme, virei o
corpo pra tráis e vi ela: tava c´a saia qu´eu gostava: branca, comprida e dizia
adeus c´os braço. Morri de desgosto.
Até hoje...
Ela entendeu antes qui eu.
Fim da istória, seo padin.
— O que você vai fazer agora?
—
Agora vô raspá a guela.
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