Perseverar
Vera Lambiasi
A zona do meretrício ficava na parte
mais alta da pequena cidade.
Lá aonde o asfalto não chegava
nunca.
Não interessava ao prefeito dar
transito livre ao Largo dos Prazeres.
De casinhas coloridas e luzes
piscantes, as trabalhadoras atendiam durante toda a noite, cobrindo as
redondezas de Uirapurus.
O chão de terra batida, levantava
poeira na passagem das camionetes dos fazendeiros.
Corriam os anos 70, quando Gervásio,
pobre lavrador, fazendo-se de filho do patrão, enganou Maria Rosa, pitelzinha
mais nova da melhor casa de prostituição.
Chegava no despertar da noite, banho
tomado, de pick-up último tipo. Refestelava-se e pouco pagava, dando pose de
rico.
Maria Rosa, encantada, fazia fiado
aos prazeres do moço bonito.
Gervásio prometia casamento.
Enganava-a dizendo montar casa junto da matriz.
Mostrava notas de compras de tijolos
e tintas, para ludibriar a noiva.
Mas nada de dar entrada nos papéis.
Sempre se desculpando, por ter que
esconder do suposto pai latifundiário, o romance.
Maria Rosa já devia uma fortuna ao
administrador da casa de tolerância.
Tornou-se, por vontade imposta,
exclusiva de Gervásio.
Até que apareceu no largo, o
fazendeiro mais poderoso de Uirapurus.
Queria ter prazer com a menina mais
linda do estabelecimento.
O nome de Maria Rosa voou pelos
corredores, e sua presença foi exigida.
Viu de longe o carrão de Gervásio, e
curiosa, partiu para os braços do desconhecido que julgava ser seu futuro sogro.
Mesmo perfume, roupas parecidas e promessas similares.
O homem dizia-se viúvo, e pai de
duas moças bem casadas.
Intrigava Maria Rosa, onde Gervásio
caberia nesta família.
Este, por vergonha, sumiu da zona,
sabendo que o patrão pegara sua presa.
Maria Rosa casou-se com o velho
fazendeiro e mudou-se para a, prometida por outro, casa da matriz.
Tiveram diversos filhos.
Uns do velho, e outros do ajudante,
moço bonito, pobre lavrador.
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