Uma
ajuda milagrosa
Fernando Braga
Luzia, nordestina, tinha
quase trinta anos, quando perdeu seu marido em um acidente, tendo ficado com
duas crianças, morando em um casebre em más condições, em um bairro pobre de
São Paulo e ainda com um vira-lata, o lula.Com o maior problema, a alimentação,
Luzia viu que era premente procurar emprego. Sua vizinha, aceitou ficar com
seus filhos e cachorro, enquanto ela perambulava pelos bairros, para se empregar.
Aceitava qualquer colocação, mas nos bairros onde predominava a classe pobre ou
média baixa, procurava.....procurava e nada conseguia.
Todos queriam ajudar, mas
em vão, e a vizinha começou a dar indiretas, de que não poderia assumir o
compromisso por muito tempo. Sugeriu que procurasse emprego em um bairro
melhor, mais distante.
Arranjou uns trocados, pegou o ônibus, o metrô e foi
parar em um bairro residencial de classe mais abastada. Em uma residência de
bom aspecto, ia tocar a campainha quando o portão automático da garagem se
abriu, dando passagem ao carro e em seu interior, um senhor, já com cabelos
grisalhos, que olhando aquela moça em seu portão, abriu a janela e perguntou se
queria alguma coisa. Respondeu ela, que queria um emprego!!Desceu do carro, foi
conversar com ela, analisando-a da cabeça aos pés. Vestia ela, algo que parecia
uma camisola de dormir, havaianas nos pés, tinha o olhar sofrido de uma pessoa
necessitada, mas, seu aspecto geral, era bom e parecia uma pessoa boa. Voltou
seu carro para a garagem, fechou o portão automático, pediu que entrasse, chamou
sua mulher e disse: não é você que estava procurando uma empregada? aí está!! encontrei
uma para você!!! Luzia, singelamente disse que não tinha muita prática, mas que
tudo faria para aprender rápido e deixá-los satisfeitos. A senhora perguntou,
se ela podia dormir no emprego e
respondeu que era difícil, pois morava longe e tinha dois filhos pequenos, de
seis e sete anos e ainda um cachorro. A senhora, que estava à procura de
empregada há meses, que gostara de Luzia, pensou, pensou e disse que próximo havia
uma creche, que ela poderia arrumar um lugar para as crianças, pois conhecia os
administradores da creche. O quarto da empregada era grande e tinha um beliche.
O cachorro, se não fosse bagunceiro, poderia ficar no quintal, que era grande. Deu
tudo certo. Luzia ficou tão contente que nem perguntou quanto iria ganhar. Gostou
demais do casal e achou que a recíproca era verdadeira. Voltaria no dia seguinte para assumir o seu
emprego! Outro vizinho, que tinha uma Kombi velha, ajudou-a a transportar
algumas tranqueiras, uma pequena mala com uns frangalhos, a Luzia, os filhos e
o lula. A acomodação era muito melhor do que esperava, alimentação farta, os filhos
foram para a creche, onde passavam quase o dia todo, estudavam. Luzia, de tão
boa que era, praticamente, tornou-se uma pessoa da família, muito querida por
todos que frequentavam aquele lar. Seu
casebre foi vendido por mil reais. Após uns cursos, auxiliados pelos patrões,
tornou-se cozinheira de primeira e todos gostavam quando fazia lasanha. Após
quinze anos, haviam se processado grandes mudança: os filhos já eram maiores,
continuavam estudando, agora em faculdade, o mais velho ajudava como chofer nas
horas vagas, o mais moço fazia jardinagem, que adorava e a família já havia
adquirido um pequeno apartamento pós esforços conjuntos e poupança, que iria
servir quando resolvessem se desprender da mãe. Os velhos, diziam que não havia
pressa, porque se sentiam mais seguros com eles presentes. Lula durou cinco
anos após a mudança.
O casal de velhos quando conversavam entre si,
sentiam-se felizes por terem ajudado aquela família maravilhosa, cuja mãe viera
procurar emprego vestindo uma camisola de dormir, provavelmente, sua melhor
roupa, na ocasião. Luzia sempre achou que havia acontecido um milagre quando
saiu naquele dia para procurar emprego, pois não poderia ter acontecido algo
melhor em sua vida. Imagine, pensava ela, que logo teria dois filhos doutores. Sempre
comentava com os filhos, que ainda há muita gente boa, generosa, pessoas que
logo percebem a situação periclitante
dos outros.
Viva a solidariedade!
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