MARATONA DE ESCRITA CRIATIVA DO ESCREVIVER - Mario Augusto Machado Pinto


Mario Augusto Machado Pinto


MARATONA DE ESCRITA CRIATIVA DO ESCREVIVER.
Março 2014

Com tempo cronometrado em 8 minutos as histórias tinham que seguir um tema apresentado no último instante, e ter menos que 15 linhas. 


1         A cereja do bolo

Querendo viajar ao exterior com tranquilidade respeito à sua saúde, minha mulher, na 6ª feira foi ao hospital e lá deveria ficar quatro dias para alguns testes. Virei dona de casa.
No sábado, após os exercícios na academia do clube, voltei para o “meu lar.” Após enfrentar transito caótico na Vila Madá, cheguei à garagem do meu edifício e estacionei o carro. Retirei a sacola com a parafernália esportiva e fui em direção à escada para subir ao 1º subsolo e usar o elevador. Enquanto subia escorreguei feio, caí largado. Fui parar no hospital, o mesmo em que estava minha mulher. Fiquei sabendo que coincidentemente a laje do teto do quarto em que fiquei era o piso do quarto em que ela estava.
Terminados seus exames foi me ver. Quadro triste, “estadia” longa. Claro que sua viagem foi por água abaixo. Comentou:
-Eu estava acabando o bolo da minha viagem. Você tomou meu lugar, estragou o acabamento e ainda colocou sua “cereja” em cima. Detestei. Agora, goze suas férias!
Saiu pisando forte.



                2  A cor do cavalo

Lembro-me da pergunta que aos cinco ou seis anos fez meu pai:”- Pois, diga-me lá, ó menino: qual é a cor, qual é ela, do cavalo branco de Napoleão?”.
Era intrigante, e não soube a resposta até o dia em que vi o cavalo da carrocinha do padeiro - era branco!. Corri ao meu pai e disse: ”
Era branco! Branco!”. Respondeu-me:
“Era. Agora é da cor de burro quando foge.”
Desisti.



3     Flash Gordon

Insistindo muito com o chuchuzinho que era minha namorada – que queria ir dançar na Sociedade Sulriograndense - fomos assistir mais um filme da série “Flash Gordon”. Ela não gostava desse tipo de aventuras espaciais fantásticas, mas concordou porque era boazinha.
O filme foi maçante, cansativo, ruim mesmo, tanto que ao término havia uns poucos assistentes na sala.
Furiosa, perguntou-me:
 Você gostou dessa droga?
Para “não dar o braço a torcer”, respondi que apesar de tudo não foi muito ruim.
Pois eu não gostei, detestei. E vou dançar.
Preciso dizer que o namoro terminou nesse instante?




4   Bo-ni-ta!

Sempre invoquei com os diminutivos que as pessoas, de modo geral, usam ao falar com criancinhas (olha ele aí): é bracinho, pezinho, mãozinha; fon-fon, au-au, e muitos outros que me irritam, gracinha por exemplo.
Passeando no parque Buenos Aires, um dia desses, vi uma criança linda, mas linda mesmo! Não resisti e falei:
Mas como você é bonitinha!
Obtive como resposta:
Bonitinha é minha mãe. Eu sou bonita. Bo-ni-ta,  ouviu?
 Bo-ni-ta, entendeu?
Entendi. Começou cedo.
Deu o que pensar...  


                                                   
5 SOCORRO!

Quando jovens formamos um grupo a que demos o nome de “Maluquetes” devido ao que aprontávamos com nossas brincadeiras.
O mais maluquete de todos era o Ivan, apelidado de Ivan, o Terrível, pelas maluquices que fazia. Eram de gozação. Tinha um defeito, porém: ás vezes pedia ajuda e ria-se quando acudíamos correndo, esbaforidos para tirá-lo de uma provável encrenca. Sempre atendíamos seus chamados. Era assim.
Nadar no rio perto da casa dele era um dos nossos divertimentos; conhecíamos tudo, até as correntezas. Certa vez estávamos nadando e ao sentir que a correnteza estava muito forte e comentei: -“Puta la vida! Hoje está forte! Vou voltar, gente. Estamos muito longe!”. Estávamos chegando cansados na ribanceira quando ouvimos - “Socorro pessoal!”. Era o Ivan. Procuramos e vimos que ele estava nadando, por isso ninguém se abalou. Só os pais dele quando identificaram o corpo do filho.



6 MEU SEGREDO.

Andava pelo parque gozando do meio ar puro do verde do entorno.
Ia devagar, olhando árvores, pássaros (pombas aos montes), pais com filhos pequenos, babás empurrando carrinhos, pessoas falando com seus “pets”, crianças chorando, outras correndo imitando sons de carros da policia e dos bombeiros. Pessoas bonitas, bem vestidas, bem cuidadas usando esporte chique. Interessante: a maior parte das pessoas era da chamada terceira idade.
Gritaria: pega, pega ladrão! E lá se foi o trombadinha com um fone celular.
A vítima não estava nem aí.
Perguntei: E agora? Quer ajuda?
A senhora respondeu: Agora? Agora nada!
Falei: Nada? Assim?
Explicou: o celular está sem chips. Uso fingindo que falo alto com alguém. É para melhorar minha pronuncia. Não quero que as pessoas pensem que estou lelé da cuca! Tudo bem. Bom passeio. 
E lá se foi. Agora, calada, meio sem graça. 
É, vivendo e aprendendo.





7 NUNCA VOLTAREI...

Os preparativos para irmos jantar no “Gero” foram caprichados, demorados.
Lá pelas tantas as mulheres estavam vestidas, maquiadas, perfumadas, prontas para se exibirem.
O “maitre” colocou-nos na mesa reservada em ótimo local, importante para além de ver, ser visto.
Recebemos os cardápios com a nomeação e descrição dos pratos, mas sem indicação dos preços (mau sinal...). Escolhemos massas e uma garrafa de vinho.
A conversa correu solta até a chegada da nota da despesa. Quase tive um peripaque causado pelo elevado valor da despesa. Silêncio mortal na passagem do cartão de crédito na maquininha.
Despesa paga, saímos, recebemos nosso carro e voltamos para casa. Só ali falamos (a bem da verdade, gritamos): gritei com toda a força dos meus pulmões: 
- “Não volto nunca mais!!!” - acompanhado em coro:
“Nunca mais, nunca mais” (lembrei-me do Ray Charles:..”and comeback no more, no more, no more...”).
É verdade. Nunca mais voltamos, mas de vez em quando fico com água na boca quando me lembro do sabor do “bavette al pesto”...





8 O PRÍNCIPE QUE VIROU SAPO.
   (Mario Tupinambá)

Don Ernesto Vieira Alexandre Vespasiano, príncipe herdeiro da fabulosa ilha “Riqueza” jamais pensara virar um sapo, todavia sua excelência esqueceu-se de que tudo é possível se não nos dermos conta dos pecados que cometemos.
Amanheceu de olhos esbugalhados, cores diversas na pele e quando tentou levantar-se caiu em quatro patas ...
O príncipe virou um sapo. Mas um sapo jamais será um príncipe...





9 REGADOR COM SORTE.
   (Mario Tupinambá)

A  historia se repete sempre: quem trabalha Deus ajuda.
Com baldes em ambos os lados do corpo, Geraldo, cristão fervoroso, pedia ajuda para sua plantação de arroz esperando que ela  sobrevivesse ao calor do verão.
Deus mandou-lhe não só muita chuva, como também, quase um milagre, com  muitos peixes.






10 SOMOS DESCONHECIDOS.
     (Mario Tupinambá)

Sempre confiamos que nosso próximo possa levar nossa confiança, e sempre somos surpreendidos pela resposta: “Você não me conhece.”
Fazemos o possível para sermos íntimos de quem gostamos, mas o gênio de cada um prega peças seguidamente em quem acredita conhecer o próximo...
O EU é um desconhecido.
“Você pensa que eu sou besta.”




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