O Milagre do Trabalho
Vera
Lambiasi
Maria, recém enviuvada, partiu para
a cidade em busca de emprego.
Deixou seu casal de filhos na
vizinha, e seu cachorro amarrado, a tomar conta da casa.
Apresentou-se caprichada no
mercadinho da estação, e pôs-se a arrumar as frutas para o teste de trabalho.
Sua desenvoltura agradou a todos,
inclusive ao patrão espanhol.
Estava empregada. E, no final do
dia, já levava alimentos para a família e vizinhança.
O cão, agradeceu imensamente, pelas
sobras de comida.
Assim foi refazendo a vida, de pobre
dona de casa, à funcionária mais dedicada do estabelecimento comercial.
Maria deu ideias para o
funcionamento eficaz da quitanda. Conselhos ao chefe para que as aves não
estragassem. Instruiu-o a vender carnes limpas e pré-preparadas.
O espanhol viu seu faturamento
dobrar. E encantava-se com a nova empregada.
Sempre durão, fazia-a extenuar de
tanto serviço.
Era viril e bigodudo, mas não
conseguia conquistar Maria, que só tinha a pensar nos filhos.
Não gastava com bobagens, guardava
quase tudo que recebia.
Começou a reformar seu casebre,
tornou-o de alvenaria, pintou-o de vivas cores.
Recebia muitos favores de seus
clientes mais queridos. Ganhou fogão, geladeira, mesas e cadeiras.
Propôs ao patrão sociedade, em seu
restaurante na vila.
O espanhol recusou, e lhe ofereceu
casamento.
Maria o repudiou, foi despedida.
Agora estava livre, e assim abriu
sua taberna.
Cozinhava, servia, tudo fazia.
Com o tempo contratou serviçais, e
os tratava com distinto respeito.
O sucesso foi instantâneo, o que
despertou a curiosidade do ex-patrão, que, humilde, a visitou. Almoçou, jantou,
encantou-se mais uma vez. Recomeçou a cortejá-la, com olhos mais respeitosos.
Demorou para Maria voltar a
enxergá-lo, na multidão de admiradores.
—
Este
espanholzinho tem muito a aprender! Ria-se ela com a vizinha.
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