FUGA NA NOITE
Mario Tibiriçá
Thomé
era um dos tantos negros aprisionados por
mercadores, e transformados em
escravos, e que permaneciam com as
pernas acorrentadas o que dificultava seus eventuais planos de fuga.
Fizera
amizade com Isaura, neta de seu senhor e pela qual se apaixonara, contando com a recíproca da
jovem, que não era feliz, pois,
vez por outra recebia violentos castigos
face sua aproximação aos escravos.
A
jovem, farta da situação de vida, combinou com Thomé, uma escapada perigosa.
Sabiam
que outros grupos também se organizavam
para a fuga, inclusive contando com o pescador barqueiro
Jesus.
O
Plano era para navegar pelo Índico e chegar ao acampamento de outros fugitivos
que estavam acampados no morro, circundados por selva fechada, após a cachoeira submersa.
Escolhendo
o dia, a hora seria noturna, esperando que os violentos feitores, cansados e
bêbados dormissem em berço esplendido,
para não cassarem os fugitivos.
A
madrugada fria, que antecede
o sol escaldante, já dava os primeiros sinais de albores, quando Thomé e
Isaura conseguiram chegar ao local onde outro
grupo já se preparava para embarcar.
Enquanto
o barco de mestre Jesus navegava
placidamente pela águas do Indico, os presos aproveitavam para se livrarem das correntes.
Thomé, desesperadamente, tentava
se livrar das correntes que lhe aprisionavam as pernas, sem obter sucesso.
—
Atenção! Segurem-se! - começou a gritar
mestre Jesus - o mar está
encapelado, vai jogar muito. O barco
está pesado e perigoso, estamos
nos aproximando da cachoeira submersa que também é traiçoeira. Segurem-se!
Embora
o aviso, alguns escravos foram
arrastados pelas ondas para fora do barco e desapareceram sob as imensas vagas que com
terrível violência varriam o convés da frágil embarcação.
O
leve barco de mestre Jesus não estava
preparado para aquele vendaval.
Ondas gigantes
destruíam o convés, e os fugitivos se agarravam às
cordas, e amuradas, e à qualquer coisa
que pudesse salvá-los.
Thomé
não teve muita sorte. De repente uma gigantesca onda arremeteu-o para junto da amurada. Na desesperada tentativa de sobreviver
agarrava-se com força na frágil amurada
que sob seu peso desmoronou, e arrastando-o
para o mar. Voltou a tona apenas uma
vez. Mas, as correntes ainda subjugavam suas pernas pesadas, o suficiente para arrasta-lo ao
fundo.
Gritando
desesperadoramente Izaura clamava pelo
seu bem amado, que já não respondia.
Finalmente,
o barco de mestre Jesus, quase todo destruído, aportou no continente.
Os
negros sobreviventes choravam. E gritavam pela alegria da liberdade. Enquanto a
chorosa Isaura debulhada em lágrimas, também decidia permanecer no acampamento
novo para escapar da possível ira de seu
avô. Mas, seu sonho de felicidade
estava destruído. O sonho de felicidade do casal, desfez-se na fúria da
espuma violenta e do encrespado e
profundo mar do oceano Índico.
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