Uma
ajuda milagrosa
Fernando
Braga
Não bastasse a pobreza, a fome crônica,
as dificuldades, a insegurança em que vivia aquele casal de nordestinos,
Severino, Luzia, com seus dois filhos pequenos e um cachorro vira-lata, o lula,
morando em um casebre em más condições, em um bairro pobre de São Paulo, quando
uma maior desgraça veio se abater sobre eles. Severino foi atropelado na rua,
próximo à Estação da Luz e após um mês na UTI de um Hospital do SUS, viera a
falecer.
Luzia, desesperada, perdeu
o rumo em sua vida. Não sabia mais o que fazer para continuar a viver,
alimentar seus filhos, visualizando um futuro muito incerto, negro, sem
possibilidades. Talvez viesse a receber um salário mínimo do governo.
Não fosse a pequena ajuda
que recebia de alguns vizinhos pobres, a fome já teria tomado conta de todos,
menos de lula, que se virava nas ruas.
Tendo a alimentação como o
maior problema, Luzia viu que era premente procurar um emprego. Sua vizinha, aceitou
ficar com seus filhos e o cachorro, enquanto ela perambulava pelos bairros,
para arrumar emprego. Aceitava qualquer colocação, mas nos bairros onde
predominava a classe pobre ou média baixa, procurava....procurava e nada
conseguia. Todos queriam ajudar, mas em vão, e a vizinha começou a dar
indiretas, de que não poderia assumir aquele compromisso por muito tempo. Sugeriu
que procurasse emprego de doméstica em um bairro melhor, mais distante. Luzia,
arranjou uns trocados, pegou o ônibus, o metrô e foi parar em um bairro
residencial de classe mais abastada. Em uma residência de bom aspecto, ia tocar
a campainha quando o portão automático da garagem se abriu, dando passagem a um
carro e em seu interior, um senhor, já com cabelos grisalhos, que olhando
aquela moça em seu portão, abriu a janela e perguntou se queria alguma coisa. Respondeu
ela, que queria um emprego!!Desceu do carro, foi conversar com ela, analisando-a
da cabeça aos pés. Vestia ela, algo que parecia uma camisola de dormir, havaianas
nos pés, tinha o olhar sofrido de uma pessoa necessitada, mas, seu aspecto
geral era bom, de uma mulher sadia e parecia uma pessoa boa. Voltou seu carro
para a garagem, fechou o portão automático, pediu que entrasse e chamando sua
mulher, disse:- não é você que estava procurando uma empregada? aí está!! encontrei
uma para você!!! Luzia, singelamente, logo disse que não tinha muita prática, mas
que tudo faria para aprender rápido todo o serviço que iria fazer, e tinha a
certeza de que iria deixá-los satisfeitos. A senhora perguntou, se podia dormir
no emprego e ela respondeu que era difícil, pois morava longe, tinha dois
filhos pequenos, de seis e sete anos e ainda um cachorro. A senhora, que estava
à procura de empregada há meses, que gostara de Luzia, pensou, pensou e disse
que próximo, havia uma creche, onde poderia arrumar um lugar para as crianças,
pois conhecia os administradores. Disse que o quarto da empregada era grande e
tinha um beliche. Quanto ao cachorro, se não fosse muito bagunceiro, poderia
ficar no quintal, que era grande.
Deu tudo certo. Luzia ficou tão
contente, que nem perguntou quanto iria ganhar. Gostou demais do casal, achou que a
recíproca era verdadeira e disse que voltaria o dia seguinte para assumir o seu
emprego! Um vizinho de seu casebre, que tinha uma Kombi velha, ajudou a
transportar algumas tranqueiras, uma pequena mala com uns frangalhos, a Luzia, os
filhos e o lula. A nova acomodação era muito melhor do que esperava, alimentação
farta, os filhos foram para a creche, onde passavam quase o dia todo, estudavam.
Luzia, de tão boa que era, praticamente, tornou-se uma pessoa da família, muito
querida por todos e após alguns cursos arrumados pelos patrões, tornou-se
cozinheira de primeira e todos adoravam quando fazia lasanha.
Após quinze anos, haviam se processado grandes
mudança: os filhos já eram maiores, continuavam estudando, agora em faculdade,
o mais velho continuava ajudando como chofer nas horas vagas, o mais moço fazia
jardinagem.Com pequena ajuda dos patrões, que adoravam a família, haviam
adquirido um pequeno apartamento, pós esforço conjunto e poupança, que iria
servir quando ¨os meninos¨ resolvessem se desprender da mãe. Os velhos, diziam
que não havia pressa, porque se sentiam mais seguros, com eles presentes. Lula
durou cinco anos após a mudança.
O casal de velhos, quando conversavam entre
si, sentiam-se felizes por terem ajudado aquela família maravilhosa, cuja mãe
viera procurar emprego vestindo uma camisola de dormir, provavelmente, sua
melhor roupa, na ocasião. Luzia sempre achou que havia acontecido um milagre quando
saiu naquele dia para procurar emprego, pois não poderia ter acontecido algo
melhor em sua vida. Imagine, pensava ela, que logo teria dois filhos doutores,
e que um dia poderia descansar amparada por eles. Sempre comentava com os filhos, que ainda
há muita gente boa, generosa, pessoas como seus patrões, que logo percebem uma
situação difícil dos outros.
Viva a solidariedade!
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