WANDERLEY, O
FOLGADO
Oswaldo Romano
Não
precisa andar muito para se deparar com um folgado. Ele está em todo lugar.
Numa roda de três amigos, com certeza você acha um.
Geralmente
é aquele esperto que domina as conversas no grupo. Os demais o observam com as devidas precauções
no que ouvem. É preciso entender e selecionar suas palavras. Ele fala sem saber
qual será o meio, e como será o fim.
Entre os
pescadores é uma loucura. Fala, gesticula, aumenta a voz para chamar a atenção,
em seguida reduz o volume convocando todos para ouvi-lo. Impõem com gestos que
todos prestem atenção.
No fim do
dia foi o que menos pescou e aquele que mais consumiu bebidas, salgadinhos,
aproveitando-se do farto farnel dos
amigos.
O folgado
mente dizendo ter pegado a dar com pau.
Completa contando do dourado que escapuliu quebrando sua linha.
Nesse dia tiveram sorte na parte da manhã, um céu de
brigadeiro até as 16:00 horas. Mas depois! Depois fechando o tempo, armou enorme
temporal, as nuvens escuras eram iluminadas pelos raios. Flashes que assustavam,
causou um salve-se quem puder.
Wanderley nessa
hora aprimorou sua vida de folgado. Juntou suas tralhas, ignorando a Isaura que
pescava ao seu lado. Correu inutilmente em direção ao gazebo. Já estava ensopado.
Chegaram
os demais, molhados, todos afeitos, e ouviram do Wanderley:
Eu puxava o
maior peixe, ali no Pouso da Cajaiba, ele
envergava a vara, parecia que ia
quebrá-la.
Deu aquele clarão foi o maior estouro que já
ouvi.
Tremi, cai
sentado, e minha vara, jamais vi.
Nisso a Izaura que ia preparar as caipirinhas, indagou:
—
Wanderley, cadê a pinga que estava aqui?
Veio a
resposta, dizendo na lata — Eu bebi.
Izaura não se contendo, com as mãos na cintura, disse
alto e bom tom:
— Ô
folgado?!!! Você é folgado hein...
Wanderley.
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