UM PADRE COMO POUCOS - Carlos Cedano



UM PADRE COMO POUCOS
Carlos Cedano

O padre Ricardo, pároco da Igreja de Santa Maria estava feliz por que faria dois casamentos seguidos, algo que não acontecia há muito em sua pequena cidade. Além disso, aliviaria as finanças da pobre igreja.

De repente, quando o clérigo ia começar a primeira cerimonia, aconteceu uma enorme confusão à porta da igreja com gritaria e acusações.

Que foi? Quis saber o padre.

Não sei - respondeu um coroinha.

Vá lá rapaz e se informe - disse o sacristão.

O menino foi em um pé e voltou no outro.

Padre é melhor o senhor ir até a porta, o bate boca esta forte e pode descambar em briga, já estão lavando roupa suja.

O pároco chegou ao exato momento de evitar que as noivas partissem para a agressão física. Falando alto e firme o vigário disse:

Senhoras, senhoras se acalmem, esta é a casa de Deus e exijo respeito. O que está acontecendo.

Antes de qualquer resposta, recomeçou a gritaria. Uma noiva acusava a outra de ter chegado atrasada à igreja,  e a outra reclamando que a acusadora tinha antecipado muito seu horário.  Cada noiva queria falar primeiro, ambas se sentiam prejudicadas.

  Silencio! -  disse o padre falando um pouco mais alto que o normal, quase gritando. Os quatro noivos e os respectivos pais vão já para sacristia, o coroinha vai leva-los, me esperem lá.

O sacerdote não falou com o grupo de noivos, queria evitar brigas e decidiu conversar com cada um deles em segredo de confissão. Depois de quase duas horas  a situação tinha sido contornada

O sacerdote então comunicou aos presentes convidados:

Teremos uma cerimonia única de casamento, vocês perceberão uma pequena alteração.  E por último quero pedir que tirem da igreja os dois bêbados que estão lá no fundo dando vexame. E, Que entrem as noivas  - pediu o pároco.

De fato, entraram as noivas conduzidas ao altar pelos respectivos pais; os noivos esperavam a chegada das noivas que com passo lento se aproximavam mostrando rostos felizes. Estavam muito bonitas em seus vestidos os quais despertaram a admiração e comentários elogiosos dos convidados, nem parecia que tinham brigado ferozmente momentos antes.

Marilia se dirigiu donde estava Ernesto,  e Amanda foi ao encontro de Jurandir, numa singular troca de maridos. Foi uma surpresa generalizada. O padre não esperou o público se recompor e iniciou a cerimônia sem mais delongas.

Durante os cumprimentos de praxe, o padre Ricardo recebeu alguns comentários. Um senhor disse-lhe:

Você é um hábil diplomata,!

  Nem tanto - respondeu o sacerdote.

Uma senhora e duas beatas comentaram que o que ele tinha feito era um sacrilégio.
Não concordo, acho que está mais para milagre  - disse o clérigo.

No final e quase sem ninguém na igreja, Sergio perguntou para o vigário:

Está feliz?

Sim - foi a resposta - Feliz por que o casamento ia ser a maior besteira. Casar por vingança nunca deu certo, além disso, durante as confissões percebi que os casais originais se amavam verdadeiramente. Sabe Sergio, eles me disseram que, inclusive, vão passar a lua-de-mel na mesma praia e no mesmo hotel.
— Hã? Então, tudo como antes, como no quartel de Abrantes?

Acho que sim concluiu o padre. 

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