Logan Coragem e seus três cães. - Fernando Braga

Logan Coragem e seus três cães.

Fernando Braga

       Conta a história que em um pequeno reinado, situado no norte da Escócia (Highlands), por volta do final do século IX, um homem desproporcional pelo seu tamanho e feiura, habitava uma montanha, instalado no interior de uma caverna enorme, iluminada por tochas. Este reinado era bem isolado do restante do país por se encontrar em localização de difícil acesso. Seu rei  vivia em um pequeno castelo no alto de uma montanha rodeado por uma muralha construída com grandes blocos de pedra, comuns na região. A vila não tinha mais do que 600 pessoas nos arredores, que viviam da caça, da pesca no Rio Ness, de pequena agricultura, principalmente da aveia e criação pequena de bovinos, equinos, caprinos, ovinos, suficientes para sobreviverem.

       Temiam todos os dias este ser gigantesco, que devia ter entre 4,5 e 5 metros de altura, cabeça enorme, testa avantajada, mandíbulas proeminentes, dentes salientes olhos pequenos, mas língua, particularmente grande. As mãos e pés eram também enormes, a voz era rouca e potente. Quando gritava, até os animais corriam, se afastavam rapidamente.

       Este gigante podia, sabemos hoje, tratar-se de um gigantismo acromegálico exagerado, acima de qualquer um, conhecido hoje, com 2,50 metros de altura, que todos conhecemos. Como viera parar ali ninguém imaginava, mas supunham ser um descendente dos Vikings, que andaram por toda a parte das Ilhas Britânicas, principalmente junto ao litoral.

       Este cara gigantesco vestia uma roupa de couro e lã, e por cima uma armadura de metal que lhe protegia o  tórax,  abdômen, parte dos braços  e ainda usava um elmo para a proteção do crânio e face. Diziam que ele havia forçado um ferreiro a confeccionar sua armadura e que após o término da mesma, havia cruelmente o assassinado.

        O gigante era fortíssimo, tinha uma espada metálica, e uma clava presa a uma corrente grossa, que deviam pesar juntos uns 50 quilos, mas que eram manuseados facilmente por ele.

       Recentemente, ele desceu pela primeira vez à vila e foi em direção ao castelo, que apavorado, mandou fechar com fortes traves o grande portão central. Lá em cima ficaram os 20 guardas armados com lanças, arcos e flechas, que vendo a ameaça, dispararam contra ele. O gigante, que fora cognominado por eles de Erskina, se enfureceu e com três clavadas destruiu o portão, penetrando no pátio interno. Alguns tentaram enfrenta-lo, mas foram esmagados facilmente.

        Gritou pela presença do rei, que tremendo uma devastação, apareceu na janela. Erskina, com sua voz de trovão ameaçou-o dizendo que dali em diante, duas vezes por ano, desceria e viria buscar 4 carroças cheias de mantimento, dúzias de bois,  carneiros,  galinhas e porcos. Levaria também consigo meia dúzia de rapazes, que ele escolheria, para ajudá-lo, e finalmente 4 donzelas, que escolheria a dedo para permanecerem com ele definitivamente.

— Quero tudo agora! E volto em 6 meses. - Bradou.

O rei não teve como contrariá-lo, mas implorou que não levasse sua filha, o único familiar que ainda tinha. Erskina olhou, pensou e disse com aquele vozeirão:

— Por enquanto não! Mas, não me irrite mais!

       Conseguiu o que queria. Os rapazes foram amarrados uns aos outros, iam pensando em um dia escapar. Mas, as moças escolhidas ficaram apavoradas e não sabiam se ele, com o tempo, iria devorá-las. Partiu prometendo voltar.

       Desde aquele dia, não houve mais sossego naquele pequeno reinado, nem por parte do rei, nem por parte de seus súditos. Não iria adiantar formar um pequeno exército contra, pois todos sabiam que ele era mais forte do que um Sansão, que conseguiu matar mais de 30 Felisteus armados, usando apenas uma queixada de burro. E, este era mais forte e sua força não estava apenas em seu cabelo.

       Ninguém mais dormia ou queria trabalhar, e grande parte dizia que se aventuraria a partir.

       Foi quando surgiu Logan, um rapagão de 20 anos, solteiro, filho do sapateiro que se adiantou em uma multidão presente em alvoroço e disse:

— Eu tenho coragem e astúcia para enfrentar este tal de Erskina. Ele pode ser bem forte, mas não é dois!

       Incrédulos todos olharam, e  surpresos perguntaram:

— Mas como? Quais são suas armas?

 —  A minha arma principal é a coragem e depois! Conto com a minha destreza em manipular a funda, a espada, o meu arco e flecha. Mas, a mais importante arma são os meus três   cães:   Corta Vento,  Corta Ferro,  e o Leão. Eu os criei desde pequenos com alimentação na base do Haguis, feito com carne, coração, pulmão e fígado de carneiro, sal, cebola e aveia. São bem ensinados e muito fortes. Com eles vou até o inferno! Com toda a minha coragem!

       Recebeu aplausos gerais. Tinham, enfim, alguma esperança. O Rei mandou chamá-lo em seu palácio e prontificou-se em ajudá-lo no que precisasse. Nesta ocasião ele teve, pela primeira vez, a oportunidade de ver Elsie bem de perto, a querida filha do monarca, trocaram alguns olhares meigos, que para Logan foi o suficiente para se sentir atraído por ela.

       Logan teve tempo para preparar-se, treinando sua pontaria com seu arco e flecha e conseguindo atingir uma maçã no alto da árvore a 25 metros de distância. Saía diariamente com os cachorros: O Corta Vento era muito, muito veloz, correndo mais do que um veado campeiro. O Corta Ferro tinha os dentes tão fortes que uma corrente de ferro era pouco para ele. E, o Leão tinha agilidade e força tal, que os animais bravios e selvagens da região capitulavam frente a ele.

       O grande dia se aproximava e todos, sem exceção, estavam excitados pelo medo. Uma noite, Logan sonhou que um sábio  aproximou-se e disse:

— Você não deve esperar por ele, deve ir a seu encontro, no local em que habita. A surpresa é sempre um elemento importante para a vitória. Vá, suba as montanhas, procure-o, vá até ele!

       No dia seguinte Logan preparou vários embornais de alimentos e água, pegou sua espada, um  facão  grande e bem afiado,  punhal, o arco e flecha, o botoque, 20 metros de corda resistente, soltou os cachorros, montou seu  cavalo,  despediu-se de seus pais, e saiu em direção à montanha proibida.  Andou duas noites e dois dias até chegar ao sopé da montanha.

       Deixou o cavalo amarrado em uma árvore, pegou apenas um embornal e as armas e começou a escalada com seus cães. No final da tarde estava no meio da montanha. Andou um pouco mais e resolveu descansar um pouco, pois o dia seguinte seria decisivo. A comida estava acabando. Dividiu o que restava com seus cães e adormeceu. Por volta das quatro horas da manhã levantou-se e continuou sua escalada. Estava ainda bem escuro e uma neblina densa cobria a área.

       Após duas horas percebeu que estava chegando devido à presença de montanhas de pedra e um som, que parecia de vozes. Foi se aproximando devagar, os cães em silêncio. Ouviu vozes novamente, mais perto.   Aproximou-se mais até observar a figura de 3 rapazes presos com correntes, em um pequeno pátio coberto, estavam enrolados em grossas capas de pele de animal. Logo reconheceu os 3 rapazes que haviam sido levados por Esrkina. Aproximou-se, pedindo silêncio com os dedos. Ficaram muito surpresos, mas perceberam que alguém, muito corajoso viera salvá-los.

       Logan logo aproximou Corta Ferro das correntes e ele entendendo o comando começou a mastigá-las vorazmente até a ruptura. Ficaram, ainda, cada um com um metro de corrente pendurada em cada braço. Logo contaram que os outros 3 deles havia sido  esmagados pelo gigante, em um acesso de loucura. Tinham um medo indescritível do Esrkina. As quatro donzelas que vieram juntas, eles nunca mais as viram.

— Uma vez cada 15 dias, o gigante mata um dos animais e os come em fatias, assadas. O resto nos é oferecido, com aveia. Vivemos com muita fome!

 Durante o dia saiam das correntes para ajudar o gigante. Se tentassem fugir, seriam imediatamente capturados e massacrados, sem dó. O gigante sempre dizia que estava para voltar até o povoado e que desta vez traria muito mais. Fizeram ainda referência à força que ele tinha e que quando queria matar um boi, simplesmente torcia seu pescoço com as mãos.

        Os rapazes vendo a coragem de Logan resolveram ajudá-lo e se preciso, até à morte.

       O gigante levantava mais tarde, sempre com muita fome e ia dormir cedo, após acorrentá-los. Em seu ambiente, o gigante nunca usava armadura.

— Qualquer dia, ele vai nos comer! Acho que ele devorou as quatro moças que vieram conosco porque após um mês elas haviam desaparecido - disse um deles.

       Pensaram em uma armadilha. Logan deu o facão e o punhal a dois deles. Ficou com a espada e com o arco e flecha. Os cães entendiam que também iriam trabalhar, e mostravam-se excitados.

      Tinha que ser naquela manhã, pois Erskina perceberia, que não estavam mais presos e certamente os mataria.

       O plano era: amarrariam a corda, bem esticada entre duas grandes arvores, na altura dos joelhos do gigante. Aquele que estava desarmado seria a isca para o gigante. Ele sairia em disparada penetrando na mata. O gigante  correria atrás, certamente. Ele o perseguiria, era certo. Quando ele estivesse próximo passaria entre as duas árvores, por baixo da corda esticada e continuaria em fuga. Ao passar entre as árvores, não vendo a corda, o gigante tropeçaria e tombaria ao solo.

— Um gigante caído no solo é outra coisa. -  comentavam.

        Eles estariam   bem próximos do local da queda. Várias flechas seriam disparadas e cairiam sobre ele com  espada, facão afiados, e punhal pontiagudo. Os cães cumpririam sua função, dilacerando pernas, tórax e abdômen. Leão atacaria o pescoço como era seu costume. O sangue escorreria em abundância, o gigante enfraqueceria rapidamente e então cortaremos sua cabeça.

Havia muito medo nos rapazes, mas ao mesmo tempo embebedaram-se pela coragem de Logan e bradaram juntos:

— Pelo nosso rei! Pelas nossas vidas!

       O plano foi perfeito e após meia hora estavam com a cabeça do Erskina pendurada pelos cabelos! Vitória completa. Todos se abraçaram e aos gritos comemoraram.

—Urra! Urra!

Voltaram à caverna de Esrkina  e  encontraram muitos ossos, incluindo crânios de humanos, certamente dos outros 7 desaparecidos. Restava um boi, que resolveram levar com eles.

Na volta, Logan encontrou seu cavalo, montou-o e fizeram o caminho de volta. Chegaram muito cansados, com muita fome, mas a recepção foi única, esplendorosa.

Após dois dias Logan e os demais foram convidados para almoçar com o rei. Os quatro foram considerados como verdadeiros heróis e Logan apelidado de Logan Coragem. O rei ofereceu a mão de sua filha, que Logan aceitou prontamente.

       Casaram e tiveram príncipes e princesas.

A história terminou! Quem quiser que conte outra!