LA
VEM BALA!
Oswaldo U.
Lopes
Hiroito
sentiu o cheiro de confusão pelo tratamento empregado pelo chefe, Dr. Fabricio:
— Sergio o
cara levou três tiros à queima roupa, e não morreu. Esta internado na UTI,
entre a vida e a morte, e não esta falando nem com o padre. O cara não é pouca
coisa e está todo mundo perplexo querendo saber da polícia, vê se faz alguma
coisa, aceito até milagre!
Sergio,
milagre, o que mais faltava no tratamento: Benzinho me ajuda!! Só você pode me
salvar! Bem se falhasse o benzinho ia ficar p... da vida. Era melhor se
apressar ver o que se podia fazer.
Três
telefonemas depois configurou a história:
Elpidio
Siqueira era diretor financeiro de um banco para lá de importante. Estava entre
os cinco maiores bancos privados do país. Dono de quantidade nada desprezível
de ações do banco, era funcionário exemplar, detestava ser chamado de banqueiro,
queria ser bancário embora isso só provocasse risos no povo diretamente dele
dependente. Chegava cedo e saia tarde. Chegava antes de D. Clara, a fiel secretária
de 20 anos que no momento estava também em estado de choque. Todo mundo sabia
que ele tinha a chave da porta e mais, já a usara quando chegara mais cedo que
o próprio guarda.
Não fora o
caso em pauta, mas as câmeras só tinham sido acionadas mais tarde que o necessário
pra que se visualizasse qualquer informação. Hiroito sabia que nada causava
mais constrangimento e aborrecimento que a polícia acusar o banco de desleixo e
falha grave. O que o benzinho lá de cima queria era solução do caso de modo
rápido e eficiente.
O fato de a vítima
não poder falar, estando entre a morte já ou daqui a pouco, o fato da câmera
não estar ligada, o fato do guarda ter ido tomar café depois do Dr.Elpidio ter
entrado, o fato de D. Clara estar fora de combate, os fatos e mais fatos que se
acumulavam não ajudavam muito Hiroito na elucidação dos fatos.
Homicídio ou
tentativa de homicídio tinham sempre as motivações de costume:
Passional,
droga, negócio não muito limpo, divida grande que não se paga, dinheiro de modo
geral, família.
Pelas
características de vida do Dr. Elpidio eram passiveis de eliminação: droga, negócio
não muito limpo, divida. Sobravam passional, família e dinheiro.
O relatório
do investigador de plantão no hospital não deixava dúvida, tiros a queima
roupa. Queima roupa como dizia a expressão literalmente, a roupa devia estar
queimada pela explosão da pólvora. Isso só acontecia com o revólver ou arma de
fogo colocada a menos de 40 cm de distância.
Como Hiroito
apurou na investigação in loco, um
guarda do banco em frente havia presenciado a entrada de uma pessoa jovem, sexo
masculino, no prédio em questão, e mais que havia saído apressado, não
decorridos mais de 15 minutos.
O quadro
geral estava montado, tiro a queima roupa, implicando num certo relacionamento
entre agressor e vitima. Suspeito do sexo masculino, jovem e nervoso. O calibre
usado, automática 38, também falava para elemento do sexo masculino, dada o
peso e as características da arma. Uma das balas fora retirada da poltrona onde
estava sentado o Dr. Elpidio.
Hiroito
descobriu num giro rápido pelos tabeliões de notas a existência de um
testamento. Não foi difícil obter de um juiz a necessária autorização para
conhecer o seu teor.
La estava o
conflito e o jovem. Uma parte substancial do patrimônio do Dr. Elpidio era deixada
para uma tal de Ernestina e seu filho Joaquim. Havia recursos suficientes para
a família digamos numero um, mas havia ali o reconhecimento explícito da
existência da família dois!
Não foi
somente como banqueiro que Amador Aguiar fez escola entre os colegas, ali
estava gente que herdaria um volume apreciável de bens e ações do banco.
Não foi
difícil levantar a ficha do tal Joaquim. Seu registro constava apenas com o
nome da mãe e como era comum nessas condições. Com pai ausente, tornara-se
menino problema, mudara varias vezes de escola e concluíra a duras penas um
curso de administração em escola de má reputação.
Era evidente
que conhecia o Dr. Elpidio. Havia entrado no banco com segurança e eficiência,
sabia claramente onde ficava a sala dele e como a ela chegar e sair
rapidamente. Os tiros a queima roupa demonstravam à socapa bastante intimidade
do criminoso com sua vitima.
A posição
econômica de Joaquim também era conhecida. Quando e como descobrira seu
parentesco como Dr. Elpidio era sabido, como confirmou D. Clara naquela tarde
quando começou a se recuperar do choque. Pequenas quantias de dinheiro eram
comumente depositadas na conta bancária de Joaquim, pequenas bem se vê que o
Dr. Elpidio estava longe de ser mão aberta, mesmo com a família número um.
A cortina
começava a se fechar, filho fora da família, fruto de caso vivido anos antes,
rapaz com vida complicada, criado sem figura paterna, soube em algum momento de
sua existência e dele tentava tirar proveito, em algum momento necessitara de
quantia vultosa por dividas de origem a esclarecer e ante a negativa firme do
banqueiro não hesitara em atirar a queima roupa.
Foi preso em
Guarulhos com uma passagem internacional só de ida, cujo pagamento
provavelmente envolvia sua mãe D. Ernestina. Mãe é sempre mãe, pensou Hiroito.
Pensou também como Benzinho iria receber a noticia do esclarecimento do caso,
decorridas menos de 48 horas do fato.
Registre-se,
a medicina de guerra que agora era tão comum no Brasil, conseguira mais um
milagre, parecia que o Dr. Elpidio escaparia dessa, Joaquim, não.
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