SERIA WILLIAM UM HEROI?
Ledice
Pereira
William tinha quarenta e três e era o exemplo da
criançada. Ensinava-os a transformar madeira em móveis ou outros objetos. Tinha
muita habilidade e uma paciência de Jó.
Vivia cercado
de gente que o admirava.
Naquele
lugarejo perdido no mapa não havia ninguém que não o conhecesse.
Morava numa
casa sui generis, cujo colorido
chamava a atenção de quem por ali passava. Paredes amarelas, venezianas verdes
e portas pintadas de vermelho.
Árvores
frutíferas cercavam-na e misturavam-se ao colorido das várias flores que a
enfeitavam.
Ele abrigava ali
animais de todos os tipos. Alguns, ele
recolhera das ruas, fazendo com que se tornassem seus companheiros: cachorros,
gatos, tartarugas, coelhos, galinhas, patos. Sem contar com os peixes que habitavam
o lago que circundava o terreno.
No quintal ele
construíra um balanço, uma gangorra e um gira-gira com a ajuda da garotada que
adorava brincar ali.
O padre o
elegeu como personalidade local. Aquele que participava de todas as atividades,
quermesses, corridas, passeios de bicicleta, bailes à fantasia, enfim.
Ninguém sabia
como ele havia chegado ali. Os mais velhos diziam que chegara numa noite de
tempestade e fora acolhido pelo pároco da época, já falecido.
“Nossa,
hoje faz quinze anos que cheguei aqui – pensou
ele. Chovia tanto e meu sapato estava
furado de tanto andar. Eu estava desesperado e faminto, procurando um abrigo.
Foram tantas as caronas, em tantos caminhões que eu, sem destino, não tinha
ideia de onde tinha vindo parar.
Naquele
dia eu não imaginei que me fixaria aqui e que ganharia meu sustento com a arte
ensinada pelo meu avô Antônio.”
Quem o
conhecia mal poderia adivinhar que William (cujo nome verdadeiro era Ernesto
Ferrari) era na verdade um fugitivo da Justiça.
Havia sido
preso na juventude, acusado de invadir uma propriedade, roubar vários objetos e
ameaçar uma família com uma arma. Nunca ninguém soubera por que ele havia
cometido esse delito.
Fora
reconhecido, cumprira dois anos de pena e num indulto de Natal conseguira
fugir.
E nunca mais
ninguém soube dele em sua cidade.
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