MEIA NOITE NA HABANA
Carlos Cedano
— Ei,
você aí! - Chamou alto
Hemingway dirigindo-se
à plateia.
Inicialmente
os espectadores ficaram desnorteados! Ernest percebeu a desorientação:
— É aquele moreno com cara de hispânico sentado
na terceira fileira.
—
Sou eu? - Perguntei ansioso.
— Sim você mesmo! Venha aqui e participe do
filme, vou lhe mostrar coisas do arco da velha!
Pulei
no palco e duvidei por um instante.
— Venha na direção da tela, entre sem medo,
entre com fé e você vai ver que num minuto se acostuma.
Cheguei
perto dele e senti que já estava “com vários copos de vantagem”.
—
Gosta de mojito? - Perguntou-me
Hemingway logo de cara.
— Nunca bebi. - respondi.
— Oh meu amigo o que você esta perdendo! Vamos,
vou te levar à “La Bodeguita del Medio” o mojito
de lá é de conquistar qualquer um logo na primeira vez.
Entramos
num minúsculo lugar bem no meio do quarteirão com umas quinze pessoas, o local
estava “bombando”! E percebi que as pessoas já estavam acostumadas com a
presença de Ernest.
Antes
de me apresentar ao grupo discretamente me perguntou minha nacionalidade.
— Sou peruano e é minha primeira vez em La
Habana ou no Brasil, não sei! Estou confuso. - respondi.
Ernest
se dirigiu aos amigos presentes entre os quais reconheci Joan Miró, Salvador
Dali, Pablo Picasso e Scott Fitzgerald que mal olharam pra mim e continuaram
bebendo ou conversando. Pablo estava quase deitado sobre a mesa e a ponto de
cair. Miró quase roncava na sua cadeira, Scotty batia um papo “olho nos olhos”
com um belo negão e o único que guardava a compostura era Dalí bebendo água
mineral e observando, parecia não deixar passar nenhum detalhe do que
acontecia!
— Gostei do mojito. Já era meu segundo quando comentei com Ernest que
olhando para o barman disse-lhe:
— Outro “mojito” pra meu amigo...Qual é teu nome? Perguntou-me
arrotando na minha cara.
— Chayo. - respondi.
— Chayo, acho que temos que sair daqui. Têm muitos bêbados e não suporto
este ambiente. Mas, antes de sair vamos beber uma “saideira”. O que acha?
— Ok! Ernest. - respondi já
bastante descontraído e também sob efeito dos
“mojitos”.
Bebemos
e saímos do bar, caminhamos na direção da Praça da Revolução onde no fundo
avistamos a enorme foto do “Che” Guevara e começamos atravessar a ajardinada praça
em ziguezague, encostados um no outro pra não cair. Algo curioso acontecia, a
medida que nos aproximávamos do grande retrato. Ele parecia diminuir de tamanho,
e descia. Continuamos caminhando e falei:
— Ernest! Vamos bater!
— Continua caminhando homem de pouca fé. Continua! Gritou Hemingway.
Continuei,
e acordei na minha poltrona já com
poucas pessoas na sala. E comecei a gritar:
— Juro
que não sonhei, é a pura verdade! - E as pessoas me olharam sorrindo com
condescendência até que alguém disse: — Coitado, está de porre!
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