DEUS AJUDA QUEM CEDO
MADRUGA
Ledice
Pereira
Juarez
chegou de Portugal com uma mão na frente e outra atrás.
Veio
tentar a vida no Brasil que, lhe disseram, era a terra do futuro onde se
plantando tudo dá.
Naqueles
tempos, vinham todos de navio amargando dias e dias tal qual uma boiada confinada
, onde não caberia nem mesmo uma ‘moscazinha’.
Enfrentou
as intempéries por aqueles quarenta e cinco longos dias, assistindo até ao
desenlace de alguns companheiros de aventura, que não suportaram aquela
provação.
Chegou
ao Rio de Janeiro febril. Mais parecia um garoto, apesar de seus vinte e oito anos, tão
raquítico e branquela.
A
exposição ao sol e à chuva, a falta de alimentação adequada, a má higiene do
navio e o contato com outras doenças, tornaram-no anêmico.
Chegava,
finalmente, às mesas dos homens que realizavam os registros daqueles infelizes,
sujos e mal cheirosos, de maneira automática, sem nenhuma humanidade, como se
contassem e marcassem animais.
Juarez
quase preferiria retornar ao lugar de onde partiu. Um misto de desânimo,
dúvida, dor, tristeza e arrependimento invadiam seu corpo e sua alma.
Mas
era cabra teimoso.
Passados
alguns dias, saúde melhorada, barba feita, roupa limpa começou a procurar
trabalho.
Naquela
terra que tudo dava, era coisa que não faltava.
Fez
de tudo. Trabalhou na roça, plantou, colheu e, ao cair nas mãos de um patrão
mais humano, conseguiu moradia de colono numa fazenda entre Rio de Janeiro e
São Paulo, onde trabalhava de dia e, à noite frequentava as aulas que uma
dedicada professora lhe dava. Assim foi melhorando.
Melhorando
de vida, melhorando de conhecimento, melhorando de saúde.
Após
dez anos, resolveu se aventurar com mais dois dos colonos, também ambiciosos.
Informaram
o patrão da decisão tomada, pegaram carona num caminhão de transporte e vieram
para São Paulo.
Aqui
chegando, Juarez foi trabalhar num boteco. E, como não tinha medo do batente,
logo foi convidado a cuidar de um café pertencente ao mesmo dono.
Aprendeu
a fazer e servir lanches, coisa que fazia com muita educação e respeito.
O patrão gostava dele e até o ajudou a
conseguir um quarto de pensão há uma quadra dali.
Por
ter aprendido com o pai a não ser perdulário, foi guardando tudo que recebia.
Conseguiu dar entrada num pequeno empório tornando-se sócio do velho dono.
Como
tinha boas ideias, modernizou o lugar aumentando as vendas.
Com
a morte do seu sócio, que não tinha herdeiros, passou a ser único dono e foi
morar na parte de cima do empório.
Resolveu,
então, reformar o local e, ao arrastar um baú, que ficava em frente à cama,
encontrou um pequeno desnível no piso. Com a ajuda de uma ferramenta conseguiu
abrir o que seria uma porta camuflada no chão.
E,
qual não foi sua surpresa quando ali se deparou com uma maleta velha e
descascada. Teve dificuldade para
carregá-la até a cama, tal o peso que apresentava.
O
coração saltava-lhe pela boca e a respiração faltava-lhe.
Abriu
afoito, e a descobriu transbordante de
moedas.
As
moedas tilintavam aqui e ali. Levou tempo a contar aquele tesouro,
Embaixo,
dólares forravam o fundo da maleta.
E,
de hora pra outra, ele se viu rico como nunca acreditou poder ser, embora
sempre tivesse desejado isso.
Acostumado
ao trabalho, não parou de trabalhar, pelo contrário, triplicou o montante
encontrado, transformou o empório num supermercado conceituado e acabou
casando-se com uma frequentadora assídua do estabelecimento.
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