MEU REFÚGIO
Vou embora para: Ilha de
Páscoa
M.Luiza
de Camargo Malina
Decidiram
por mim. Ilha de Páscoa.
Sem
poder de escolha. A mala está de boca aberta, tão aberta quanto a minha. O
problema não é o que levar, e sim, o que deixar. Não tenho tempo, preciso ser
rápido. A passagem, qual o horário? A ampulheta não consegue parar. Escoa.
Escoa meu pensamento restringindo-me ao nada e ao tudo ao mesmo tempo. Um
calafrio me orienta na precisão do fazer para o futuro, não, não posso pensar
no que estou deixando, é minha vida; se me encontrarem será pior, a notícia
ainda não vazou.
O dia continua adormecido nos braços da noite; rápido, todos
os sentidos me levam a esta única salvação: fugir. Vou deixar comida suficiente
para Toby, já pressentiu o meu distanciar, acredito que ele consiga ler os
pensamentos. Enquanto me preparo, eu vou... O que... O que é que eu vou...
Talvez... Pensar numa garota para ficar com ele. Já sei vou deixar a porta
entreaberta. Ele ao menos poderá decidir o que fazer.
Minhas
coisas. Preciso me concentrar. Um farol de carro piscando, são eles. Não há
mais tempo, fui. Nem olho para Toby que resmunga um adeus. Atropelo os degraus
da escada de serviço. Silêncio absoluto. O porteiro cochila. Ótimo. Consegui.
Entro no carro, não bato a porta. Sumi.
O
voo no jatinho foi o único som que ouvi; nem um bom dia ou boa viagem do
ocupante do carro foi dito, para que eu não o identificasse. Relaxo. Foi
melhor.
Ilha
de Páscoa. Deveria beijar o chão? Não. Tenho certeza de que não serei o “homem
pássaro”. Ficarei um dia no hotel. Novo hóspede. Novo nome. Nova pessoa. Novo
investidor. O solitário dono da pousada Orongo, sem número e sem nome de rua,
que apenas proporciona visitas aos cerimoniais que definem o líder da ilha, no
topo do vulcão Rano Kau.
Vivo
e vivo. A cada sol torno-me mais vivo na
testemunha da cumplicidade dos moais tatuados e observando a perseverança das
ondas do mar, onde o recuo transforma-se num novo avanço.
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