UM
PEDIDO PÓSTUMO
Carlos
Cedano
“O
tenente Peres chegou e viu o saldado Armando em seus devaneios silenciosos. Com
certeza está omitindo-se a lutar, pensou ele. Não posso permitir essa covardia,
a tropa vai ficar desmoralizada preciso dar um exemplo pra todos”.
“Chama
três soldados que se alinham defronte ao soldado Armando e com três tiros
certeiros cessam para sempre os sonhos de um pacifista!”
A noticia caiu como bomba no
meio do regimento espalhando-se rapidamente para os outros. O soldado Armando
era pacifista convicto e já tinha alegado essa situação antes do recrutamento,
esperava uma nova decisão das autoridades superiores quando aconteceu o
incidente fatal!
Covarde? Se ele não atirou contra os inimigos, inúmeros foram os
resgates de companheiros feridos no meio de intensas trocas de fogo, muitas
vezes dava os primeiros socorros no próprio campo de batalha! Covarde? Entre
todos os soldados foi quem mais arriscou a vida pelos companheiros! Foi o
testemunho de muitos soldados que acompanharam seus esforços no campo de
batalha.
Porem a lógica da leis militar
se apoia nos princípios de amor e defesa da pátria e são considerados valores
supremos! Nada impediu a autoridade militar considerar o comportamento do
Tenente Peres como correto e em total acordo com o código de guerra!
A morte de soldado Armando
causou um impacto ainda maior no país. Quando morreu ele já era conhecido como
um jovem promissor como compositor musical e literato, colaborava com jornais e
revistas e tinha obtido muitos prêmios no país e no exterior. Sua morte nas
condições que se deram desencadeou ondas de protestos e reações até no
congresso nacional. Na sociedade a divisão entre legalistas que davam razão as
autoridades militares e os civis partidários do jovem soldado, encaminhava-se
para uma situação de conflito, foi a mãe de Armando, dona Diana, que ajudou no
entendimento entre os dois lados.
A mãe convocou uma conferência
de imprensa que aconteceu no meio de uma enorme multidão que lotava o local onde
se realizava. A mãe leu o “testamento” de Armando com voz embargada pela
tristeza porem firme:
“Suspeito
que minha morte poderá ocorrer no meio desta terrível guerra que vive nosso país,
mas não culpo ninguém, entretanto ela não deve ser pretexto para acirrar
rivalidades e ódios entre os homens de nossa nação, não! O que peço é que os
dois lados cheguem a um acordo de verdadeira reconciliação evitando
enfrentamentos e rancores, nossa pátria espera esse gesto de humanismo de todos
vocês”.
“Este
é meu testamento que peço a minha mãe ler pra todos vocês e para que saibam que
não existe nada melhor que a paz para garantir um país que brinde desenvolvimento
pleno a todos seus filhos”.
É assim que pensava meu filho,
imploro aos senhores orientem seus sentimentos e esforços no sentido desse
testamento de amor e esperança, obrigada.
Não foi fácil, mas lentamente a
razão foi voltando a imperar entre os homens e o país aos pouco foi
cicatrizando suas feridas! E já podiam esperar-se dias melhores!
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