SENSAÇÃO NÃO CASUAL - Sérgio Dalla Vecchia

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SENSAÇÃO NÃO CASUAL
Sérgio Dalla Vecchia


Rubens já estava na poltrona no cinema, observava atentamente garotas, que normalmente aos pares, acomodavam-se em assentos próximos.

Junto com amigos adolescentes, não perdiam nenhuma matine aos domingos. Não importava o filme. Importante eram as inocentes paqueras daquele tempo.
Reuniam-se na sala de espera, brincando degustavam dropes, fumavam um ou outro cigarro e pouco antes do início da seção, entravam  postando-se em pontos estratégicos.

Ele acomodou-se na fila do meio, de onde acompanhava o movimento das moças.

Duas loirinhas falantes sentaram no extremo da fileira anterior, mais três na fileira posterior, um casal de namorados logo a frente e assim a sala foi lotando.
As luzes se apagaram. Ruídos de balas sendo abertas, assentos baixando, murmúrios, enfim começou a seção.

Enquanto os trailers passavam, Rubens inquieto buscava com os olhos  os amigos. Quando os avistava, respondiam com o polegar para baixo, demonstrando que ainda não abordaram nenhuma moça.

O casal de namorados a frente trocava carinhos, beijos, sussurros,  de rostos colados olhavam para a tela.

Nada!

Restavam apenas dois lugares ao lado.

De repente Rubens observou vindo em sua direção duas lindas garotas.Com vozes tímidas ouvia-se murmurarem, com licença, licença até se acomodarem ao lado.

Quem sentou-se próxima era esguia, cabelos castanhos lisos, lábios carnudos e um olhar tímido. Já a colega era uma ruiva espevitada, não parava de olhar ao redor, até que percebeu Rubens. Fazia um tipo bem diferente da outra.

Ele animado lançou alguns olhares para a espevitada e foi prontamente correspondido. Acontece que entre ele e ela havia a tímida. Como aborda-la? Pedir para que trocarem de lugares? Aconteceu numa desses flertes com a ruiva, seus olhos encontram o olhar tímido da bela castanha.

Rubens teve uma sensação inusitada em sua jovem vida. Aquele olhar tímido desconcertante o induziu imediatamente a ignorar a ruiva. Encostou-se na cadeira, respirou fundo e refletiu a atitude.

Lembrou-se das tantas garotas que paquerara naquele mesmo cinema, quantos beijos, quantos carinhos e quanta insipidez!

Aquela garota o paralisou totalmente!

Tinha que abordá-la, mas estava travado, todas as técnicas de paquera e experiencias anteriores não serviam para nada naquele momento.

Sem querer, o braço resvalou no dela. Aproveitando a deixa com  cautela encostou novamente o braço e o manteve. Ela teve ímpeto de retirar, mas não o fez. Assim mantiveram. Ouvia-se o bater acelerado de corações.

Aos poucos, com coragem Rubens perguntou a ela:

Oi, qual seu nome?

—Ritinha. - Respondeu timidamente.

—Sou Rubens, muito prazer.

—De onde você é, nunca a vi por aqui ?

—Sou do interior de Minas. - Já mostrando o sotaque típico.

A conversa foi animando, de repente, mão na mão, braço nos ombros, rostos juntinhos e o filme rolando.

Em instantes a seção terminou, as luzes acenderam. Não houve tempo para beijos!

Nesse momento Rubens viu o rosto mais brejeiro de sua vida e também a ruiva mais enfezada do mundo.

Na saída olhou orgulhoso para os amigos e fez o sinal de positivo usando as duas mãos.

Despediram-se e nunca mais se encontraram.


Restou apenas a lembrança daquela inesquecível matine.

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