O MOTIM DA CHIBATA
Sérgio
Dalla Vecchia
Branco
era um rapaz de espirito rebelde, desempregado perambulava pelo cais do Porto, na
cidade do Rio de Janeiro em outubro de 1910.
Enquanto
olhava os arredores deparou-se com a imponência de dois couraçados; o MINAS
GERAIS e o SÃO PAULO. Logo adiante havia uma placa convidando para os jovens se
alistarem na Marinha.
Chegando
junto à placa, um oficial logo lhe entregou um papel para assinar. Impressionado
com a grandeza dos navios, assinou sem pensar. Seria a saída para a sua
condição de desempregado.
No
governo de Afonso Pena (1906-1909), a Marinha brasileira tornara-se muito poderosa
pelos investimentos, pela aquisição de vários navios, dentre eles dois
couraçados fabricados em estaleiro na Inglaterra.
Acontece
que os métodos de conduta aplicados pela Marinha eram retrógrados e muito rígidos,
não evoluíram como as das outras Marinhas pelo mundo afora.
Maus
tratos e castigos físicos eram muito contundentes.
Sem
conhecer, Branco entusiasmado embarcou no couraçado SÃO PAULO.
Os
trabalhos a bordo eram intensos, os oficiais prepotentes, rudes ao extremo. No
terceiro dia, Branco já foi castigado por não ter lavado a escada como o
oficial queria.
Mesmo
por falhas banais, os marinheiros eram penalizados sem piedade!
O
castigo mais severo consistia em se aplicar chibatadas.
Uma
corda grossa embebida em água, transpassada por agulhas, era a chibata
utilizada para rasgar a pele do infeliz condenado!
Por
conta disso o moral da turma era muito baixo. Trabalhavam com ódio no coração!
A
rotina era a mesma até que um marinheiro do MINAS GERAIS por ter sido acusado
de um ato injustamente, desacatou o oficial.
O
fato foi considerado gravíssimo e a pena a ser aplicada foi de dezenas de
chibatadas perante toda a tripulação.
Houve
uma comoção total entre os marinheiros.
Cada
chibatada aplicada era sentida por todos, os gritos de dor ecoavam pelo vazio
do mar.
Foi
o estopim que deflagrou um motim sangrento no MINAS GERIAS.
Rapidamente
a notícia chegou ao SÃO PAULO.
Branco
inconformado, utilizando seu espirito rebelde, com muita astúcia conseguiu
silenciosamente programar um motim simultâneo nos dois couraçados, para a noite
de 22 de novembro de 1910.
Assim
aconteceu!
Os
marinheiros tomaram agora também o SÃO PAULO, alguns oficiais foram chacinados,
Branco assumiu o comando geral e mandou que apontassem os canhões em direção ao
centro do Rio de Janeiro.
O
Marechal Hermes da Fonseca havia recém empossado como novo Presidente do
Brasil, dia 15 de novembro de 1910.
Nessa
noite de 22 de novembro ele assistia à uma ópera, quando a apresentação foi
interrompida pelo estrondo de uma bomba!
Logo
o presidente recebia as reivindicações dos amotinados:
Fim
da chibata e de outros castigos físicos, melhores condições de trabalho,
aumento do soldo e anistia.
Foi
estipulado um prazo de poucas horas para atendê-los ou a cidade seria
bombardeada.
A
população entrou em pânico!
Os
políticos e Forças Armadas após intensos debates, aceitaram as condições
impostas.
Os
oficiais sobreviventes, os substitutos reassumiram o comando dos couraçados, a
ordem foi restabelecida.
Com
a conquista alcançada, Branco sentiu-se como um herói.
A
paz voltou a reinar nos navios, mas não no batalhão de fuzileiros navais da
Ilha das Cobras.
Os
fuzileiros se amotinaram, mas o Governo já precavido, abafou a rebelião
rapidamente com muita violência.
Ainda
aproveitou com pretexto desse novo motim cancelar a anistia assinada anteriormente
sob mira de canhões.
Os
primeiros revoltosos foram presos, torturados, alguns assassinados e outros
encaminhados para trabalhos forçados na Amazônia.
O
herói Branco foi um dos primeiros a ser vingado com a morte.
Houve quem dissesse que o Governo
ganhara a revanche!
Conto
de ficção baseado no livro, História do Brasil de Raymundo Campos, página 170,
A REVOLTA DA CHIBATA.
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