INTEMPÉRIE
Sérgio Dalla Vecchia
Naquele inesquecível ano
fez um agosto frio, fora dos padrões. A data, jamais esquecerei, era uma sexta
feira. Estávamos deitados àquela hora, passava da meia noite. Iracema
queixou-se de um mal-estar qualquer, mas eu estava sonolento demais para
dar-lhe atenção. Lembro-me vagamente, de ter respondido que era influência dos
astros, era noite de lua cheia.
Embora sonolento, não
conseguia dormir, enquanto Iracema foi à copa tomar um digestivo.
Quando retornou, já mais
disposta, vindo em direção à cama, reparei na sensual camisola vermelha
mostrando belas curvas. O sono fugiu de vez!
Veio à mente quando
conheci Iracema. Morena, linda, lábios tentadores e corpo escultural.
Lembro perfeitamente
quando brincando a chamei de Iracema a virgem dos lábios de mel, parodiando
José de Alencar. Ela sorriu brejeiramente e trocamos um delicioso beijo, com
real gosto de mel.
Lá se foram vinte anos de casados
e o gosto peculiar ainda me fazia salivar.
Ela deitou-se ao meu lado,
nos abraçamos e sussurrei ao seu ouvido:
—Cadê
aqueles lábios de mel?
Iracema virou-se, olhou
bem dentro dos meus olhos e respondeu:
—Você ainda acha que são
de mel? - Respondeu ela duvidosa.
Vi no seu rosto a mesma
expressão brejeira de quando a conheci.
Sem perdermos nem mais um
minuto, nos beijamos ardentemente como da primeira vez!
O casal estendeu o namoro
ao clímax e adormeceu abraçado.
E
a insípida noite fria de agosto, havia se transformado em expressiva noite
quente de verão.
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