O Desejo mora ao lado - José Vicente J. de Camargo


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O Desejo mora ao lado
José Vicente J. de Camargo

Matinê de domingo no cine Tabajara! É a sessão de cinema preferida dos namorados e daqueles que estão à procura de sua outra metade.
Ele estreia sua calça jeans desbotada que comprara dias antes. Camisa polo e tênis combinando. Procura com atenção um lugar apropriado. Se deu por sortudo ao encontrar um livre, ao lado de uma morena dengosa conversando com as amigas. Todas esbanjando sorrisos, fofocam apontando as pessoas ao redor.

As luzes aos poucos se apagam. Transferem sua luminosidade para a tela do cinema que vai ganhando vida e som. O silêncio impera no ambiente e o filme inicia com as primeiras cenas mostrando um suspense inesperado. Os casais se abraçam mais fortemente procurando um apoio mútuo para o drama que promete ser violento.

Ele joga seu olhar entre o filme e o peito descoberto da morena ao lado.

Quando menos se espera, um punhal de lâmina reluzente desfere golpes violentos na moça indefesa. Gritos de dor e medo ecoam pela plateia aterrorizada. A morena assustada, instintivamente agarra a mão dele procurando socorro e a retira em seguida, desculpando-se. Ele, sem vacilar, balbucia no ouvido dela:

Fique à vontade! Vêm mais cenas de terror bem piores que esta...

Ela surpresa responde:

Como sabe? Já assistiu o filme?

Sim, varias vezes, retruca ele. As pessoas amedrontadas se agarram uma as outras.

Ah! Mas isso não é justo, replica ela. É aproveitar-se da ocasião. Tirar proveito da ingenuidade do próximo.

Para mim, continua ele, culpado é quem deu o nome ao filme: “ O desejo mora ao lado”. Provoca iniciativas nas pessoas que só Freud explica. É dar pano pra manga... Mas não se preocupe:

“Não estou armado! Não tenho punhal ou qualquer outra arma. Sou de amor e paz. Aceita uma pipoquinha? ”...


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