A entrevista - Silvia Helena de Ávila Ballarati - (Vinha)


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A entrevista
Silvia Helena de Ávila Ballarati - (Vinha)

Apenas quatro cadeiras na sala envidraçada. Na secretaria da pequena escola de português para estrangeiros bate forte o sol das quinze horas. Melina muda de lugar duas vezes. Senta-se de frente para o outro candidato. É a última vaga de professor que ambos almejam.  Algumas revistas, música de fundo, celulares, cigarro. Assim ficam quarenta minutos. Sem se falar, pouco se olhando, muito se examinando. Aguardam a saída do candidato anterior.

Às vezes em que seus olhares se cruzam, desviam-se rapidamente. Eles se conhecem de entrevistas anteriores.  Melina sabe que não basta viajar, conhecer outras culturas, outras línguas. Para ensinar, tem que saber muito bem o português. Isso Christian domina. Estuda Letras no Brasil, filho de mãe argentina, pai francês, morou em Londres. Tem todas as prerrogativas para o cargo. Por que, então, lá esta ele de novo? Como não tem, já, o emprego?

Sempre teve vontade de perguntar. Christian a intimida. Tão vivido, viajado, impecável no trajar, discreto no celular. O pouco que sabe dele é uma secretaria ou outra que conta. Nas entrevistas também se informa. Com ele mesmo, nunca falou.

Christian também sente o sol forte refletindo nas vidraças. Levanta, bebe agua, mexe no celular. Não aguenta mais a musica. Olha pra Melina, esboça um meio sorriso. Admira sua figura descontraída. Parece que da ultima vez em que se viram ela estava idêntica. O mesmo coque solto, calças largas arrastando no chão, echarpe. Será que não está com calor?

Tem vontade de conversar, nada sabe dela. Impacienta-se com o sol, com a demora. Com o silêncio principalmente. Resolve. Vai perguntar-lhe se não está com calor quando a porta se abre. Sai o concorrente, aparece a secretaria:
Melina!



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