Candidato inoportuno - Conto Coletivo - Silvinha, Maria Verônica, Oswaldo Lopes , Maria Amélia e Ises.


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Candidato inoportuno
Conto Coletivo

Silvinha, Maria Verônica, Oswaldo Lopes , Maria Amélia e Ises.


Três gerações estavam reunidas ao redor da grande mesa de madeira da sala. Era o aniversário da Zezé. Presentes todos os fartos quitutes da cozinha mineira. Zezé a única das cinco filhas do velho Machado ainda solteira pontificava. Era o seu dia. As crianças em alvoroço olhavam com gula as espigas de milho e as coxinhas de frango.

Além da algazarra ouviu-se o blém, blém estridente da sineta da varanda. Zezé teve que gritar:

Zico vai ver quem é! Quem será a esta hora?

Sou eu, Zezé. Você não se lembra? O Epaminondas. Estou morando agora na fazenda perto da divisa.

Fez-se  um silêncio atônito. Todos se lembravam do malandro do Epaminondas que, apesar de tudo, conseguira há oito anos ser eleito prefeito de Argirita. Felizmente tinha sido derrotado na última eleição.

O velho Machado que até agora não se manifestara não deixou por menos.
Seu cara de pau! Como tem coragem de aparecer de novo depois do que aprontou para a Zezé?

 Que é isso, seu Machado? O que passou, passou! Venho em paz. Eu mudei demais da conta. Agora estou tentando a reeleição!

Dito isto, o intruso empurrou as crianças e se aboletou ao lado de Zezé. Sem cerimônia, anunciou que tinha fome de leão e agarrou a primeira coxa de frango que viu pela frente.  Com a boca lambuzada de gordura esticou o prato para lhe servirem generosas porções de tutu e torresmo. Esnobou o quiabo refogado.

Não gosto de baba, declarou. Você lembra, não é Zezé?

Foi nessa hora que o Zico que tinha sido expulso da cadeira pelo glutão, não se conteve:

Mãe, olha a visita, já avançou no frango e botou defeito no quiabo. Não é falta de educação?

Sem dar atenção ao menino e aos olhares reprovadores, o intruso virou-se.
Como é Zezé, não tem uma cervejinha aí ?

Mesmo a contragosto, a aniversariante foi buscar a bebida para o ex-noivo.  O almoço prosseguiu com o pessoal visivelmente sem jeito enquanto o Epaminondas falava pelos cotovelos. Entornava um copo após outro e ainda pediu a cachacinha para arrematar.

Virou-se para Zezé com a voz já enrolada, passando-lhe o braço suado pelos ombros:

E aí Zezé, saudades daqueles bons tempos? Pelas minhas contas já está com cinquenta, não é não?

Foi demais para o velho Machado. Empertigado e, com a dignidade que lhe era peculiar, se aproximou do descarado.

Acho que você está querendo ir embora, Epaminondas! Deve ter mil eleitores esperando! Faço questão de acompanhá-lo até a porta.

Ante o 38 visível na cintura do velho, Epaminondas amarelou.


Que é isso, padrinho. Já tava mesmo de saída. Agradeço o almoço. Próximo domingo é a eleição. Conto com os votos de todos. Já vou indo. Já vou indo. Já vou indo...

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