DESVIO
DE RUMO
Fernando Braga
Oswaldo Romano
Sérgio Dalla Vecchia
Hoje
em dia sinto-me resolvido, feliz. Mas, numa análise profunda, vejo que muitas
pontas poderiam ser atadas de maneira diferente. Se pudesse voltar no tempo eu
mudaria algumas coisas. Começaria consertando o que fiz de errado.
Perdi
tempo começando muito tarde. Era pobre, meu pai artista de circo e mãe
lavadeira. Terminei o Grupo Escolar com 14 anos. Tinha que lavar carros na
praça para meu sustento.
Com
muito sacrifício continuei os estudos no Grau Médio em Escola Pública. Lá
conheci vários colegas com diferentes perfis. Um deles vestia-se muito bem,
possuía uma moto e dinheiro no bolso. Comunicativo, simpático, foi com ele que
me identifiquei.
Havia
completado 18 anos, sentia-me capaz. Encontrar um amigo com dinheiro era tudo
que queria.
Conheci
seus pais, que eram tão pobres quanto os meus.
De
onde vinha o dinheiro? Pensei comigo.
Certa
feita ele me convidou para conhecer seus amigos do peito. Topei. Nos reunimos
em uma praça, onde fui apresentado ao grupo.
Entram
logo no assunto sobre vendas de drogas para os alunos na Escola.
Surpreso
e assustado perguntei sobre o risco desse negócio? Responderam que era
tranquilo, o ganho era bom e valia a pena arriscar. Aceitei fazer parte do
grupo e fui enviado para o Paraguai, onde contribuiria para o envio de drogas.
Tudo
me foi pago, viagem de ônibus, roupas novas e local para morar. Fui logo
procurado por um traficante e minha missão foi servir de mula para o transporte
da mercadoria em minha mochila.
Foi
o que aconteceu. Entrei num ônibus em direção a São Paulo, lotado de sacoleiros
e seguimos viagem.
Tudo
ia bem até que o ônibus foi parado no Posto Fiscal e após uma varredura em toda
a bagagem, me pegaram.
Cumpri pena por longos anos e agora
livre, sentado em um banco à sombra de uma figueira, filosofo tranquilamente
sobre meu passado inglório.
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