MAL ENTENDIDO
Com
a filha de João, Antônio ia se casar...
Oswaldo
U. Lopes
O problema com o mal entendido é que num
determinado momento, numa certa hora ele pode ser muito bem entendido, só que
de modo inesperado, de um jeito torto, digamos.
Foi o que aconteceu com o Antônio que
andava namorando a filha de João. Na roda do bar disse que só casava com mulher
virgem. Ninguém nem lembrava como aquilo começara, de como a conversa rolara
entre pingas e cervejas, mas todos lembravam o que Antônio dissera. Sobretudo
porque ele, logo depois, rompeu com a filha de João assim de uma hora para
outra, sem mais essa nem aquela.
João ficou muito bravo, pois juntou a
frase ao fato. Maria que era sua filha passou a chorar pelos cantos, cheia da
vida e certa de que ia ser falada, comentada e condenada.
Não que fosse virgem, fazia tempo que
não era. Em pleno século XXI ela não era, e um montão de amigas também não era.
Antônio sabia muito bem desse fato, não por ouvir dizer, mas por fazer, se me
entendem. O que ia rolar agora?
Antônio apelou para o mal entendido,
dissera não que só casaria com mulher virgem, mas que mulher virgem só
atrapalhava o casamento. O soneto que já era ruim com a emenda ficou pior.
Não colou. Não colou no bar, não colou
na praça, não colou na Igreja e não colou em João que resolveu ir ao bar na
hora da roda e acertar as coisas. Além das coisas acertou Antônio com dois
tiros.
O delegado homem antigo, machista e
velho no serviço não lavrou flagrante, botou fiança baixa e deixou o caso
rolar.
Rolou tão bem que Antônio foi absolvido
sob a alegação de lavagem da honra e isso ficou muito claro e bem entendido. O
mal entendido deixara de ser problema.
Querem saber da Maria? Século XXI gente,
mudou de cidade, arranjou a vida teve sucesso e nem se lembra direito do Antônio.
Tem uma filha, produção independente, como dizem, e espera que ela viva num
mundo melhor.
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