O CAÇULINHA
Sérgio
Dalla Vecchia
Numa
tarde de junho nasceu o terceiro filho de um casal que já havia gerado duas lindas
filhas.
Portanto
ele recebeu as honras do título de caçulinha varão.
Houve
farta distribuição de charutos e whisky para amigos e parentes.
O
pai desmanchou-se de felicidade ao ver pela primeira vez o seu almejado filho ainda
no berçário. Era tudo o que ele queria, um filho homem!
Participando
da felicidade do casal também lá estava o solteirão do tio Luiz. Figura muito
querida por todos pelo seu bom humor.
De
tanto o tio Luiz insistir e prometer que o carro dos 18 anos seria por conta
dele, o pai acabou aceitando em batizar o caçulinha com o seu nome.
A
solução encontrada foi a de dar um nome duplo e assim foi feito:
João
Luiz. João em homenagem ao avô, Luiz
pela insistência.
Não
faltaram carinhos e mimos para o Joãozinho tanto do pai como do tio.
Assim
Joãozinho foi crescendo e mostrando atitudes de caçulinha. Começou a mandar nas
irmãs. Falava dos vestidos, de horários e outras tantas implicâncias.
O
que mais se ouvia na casa eram os choramingos das irmãs:
Mãe,
o Joãozinho me bateu!
Mãe,
o Joãozinho derrubou suco de laranja no meu vestido!
E
assim as irmãs eram atazanadas incansavelmente por ele.
Não
dava tréguas a ninguém. Até a gata siamesa levou um puxão no bigode, e que de
pronto reagiu, desferindo uma forte unhada no nariz do provocador.
Joãozinho
disfarçava bem suas travessuras. Quando empurrava um vasinho da coleção de
violetas, dispostos pela avó no parapeito da varanda, nunca ninguém desconfiava
dele.
De
menino levado passou a ser um rapaz de 1,90m de altura e muito forte.
Tudo
onde ele punha as mãos quebrava ou desaparecia misteriosamente.
—Quem
quebrou a maçaneta do meu quarto? -Gritava a filha mais velha.
—Foi
o Joãozinho, respondia de pronto a outra irmã.
La
ia a atribulada mãe atrás do arteiro. A diferença de tamanho era enorme, ela de
1,70m enfrentava um filho tão maior! Chegava a ser cômica a cena, mas ela não
se intimidava. Algumas vezes subia num banquinho para igualar as alturas e aí o
reprendia sem dó.
Já
cursando a faculdade ele saia sonolento aos trancos e barrancos pela manhã e
por vezes estacionava o carro numa praça próxima e lá dormia tranquilamente
para voltar faminto na hora do almoço.
Assim
a vida foi passando. Joãozinho, solteiro convicto ainda morava com os pais.
Por
vezes num domingo com os pais ainda na cama, surgia ele no quarto com seu 1,90m,
e sem a mínima cerimonia, deitava-se entre o casal que o aceitava como uma
criança, beijando sua testa e acariciando-o.
Esse era o caçulinha do papai, que o
tempo o fez da mamãe também.
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