Cuspir marimbondos e a proclamação da Independência - Ises de Almeida Abrahamsohn


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Cuspir marimbondos e a proclamação da Independência
Ises de Almeida Abrahamsohn

Quando se fala na Independência, o costume é lembrar a imagem pintada por Pedro Américo, tempos depois, onde aparece a comitiva reluzente, montada em cavalos brancos, uniformes de gala e espadas desembainhadas. Nada disso aconteceu. Nem o grito, ainda que importe menos. Porque, mesmo de guarda-pó, o imperador separou o Brasil de Portugal.
Iam os viajantes de farda de gala, uniformes brancos, condecorações, medalhas e capacetes luzindo ao sol? Nem pensar. O traje era o mais tosco possível: calças largas, camisas folgadas e, sobre elas, um camisolão chamado de guarda-pó, que se era branco no início da viagem, tornava-se marrom logo nos primeiros dez quilômetros. Também chapelões de palha, com vastas abas.
Cuspindo marimbondos por conta dos intestinos e da pressão portuguesa, fala diversas vezes em independência, que a partir daquele momento estava caracterizada. Manda os soldados arrancarem dos chapéus os laços com as cores da coroa portuguesa, verdes e vermelhos. Alguém indaga como fazer se os batalhões portugueses oferecerem resistência e ele, entre vocábulos menos castiços que praticava, retruca que irá à batalha, até a morte, se for o caso, mas jamais se submeterá às ordens de Lisboa.”  Carlos Chagas. http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0175b.html

       
Pois é nesse relato que apareceria  o Chalaça (companheiro pessoal de Dom Pedro) ao qual atribuo  um papel ainda que pequeno na história como se passou.

        Vinham todos montados em mulas, com os traseiros já castigados da viagem anterior do Rio a São Paulo e a Santos e agora retornavam a São Paulo. Dom Pedro havia se entupido de comer no banquete da noite anterior em Santos e ao iniciar  o trajeto pela calçada do Lorena os intestinos se rebelaram. A comitiva subindo pela íngreme vereda era obrigada a parar a cada quinze minutos para o comilão se aliviar atrás de algum arbusto. Porém, nessas horas difíceis o Chalaça era de serventia. Estendia ao príncipe lenços molhados (o papel higiênico ainda não havia sido inventado). Homem precavido, o companheiro de farras aplicava-lhe  um unguento perfumado à base de cera de abelhas e óleo de oliva para sossegar o traseiro escalavrado.

        Os cuidados do Chalaça  talvez  permitiram que o nosso Dom Pedro chegasse  ao planalto  ainda em condições de mesmo cuspindo marimbondos*  proclamar  a independência de Portugal.

* irritado, nervoso, estressado. Fulano  está cuspindo marimbondos de raiva.


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