Outro dia senti Mario Augusto
Vera Lambiasi
Foi no cabeleireiro do clube, tendo,
nós dois, as unhas dos pés cortadas. Que situação!
Nossa amizade era fina, cultural,
sempre arrumados, nas aulas de escrita criativa.
No salão, as unhas voavam, e a
cerimônia foi para o espaço.
Na classe, sentávamos lado a lado, um
a dar pitaco no conto do outro. E aceitávamos mutuamente as modificações.
Nos descobrimos amigos logo nas
primeiras aulas, há 4 anos.
Veneza, seu trabalho inaugural, me
encantou.
Agnone, minha crônica de estreia,
trouxe as coincidências.
Renata, sua esposa, também era de
família agnonese.
Mario dizia, esfuziante:
– São da mesmíssima cidade italiana,
porca la miséria!
Renata já estava adoentada, e faleceu
no nosso 3º ano de curso.
Cremação das mais tocantes, no lindo
Horto da Paz.
O neto do Mario, igualzinho a ele,
falou bonito sobre a amada avó.
Outra coincidência é que Mario e eu
fazemos anos no mesmo dia, com uns poucos 30 anos de diferença.
Mas não há uma relação paternal,
somos muito debochados.
Mario tem suas safadezas escondidas,
por vezes expostas em suas linhas. Porém, nunca passa do ponto, suas atitudes
são de uma educação primorosa.
Chama-me Veruska com muito carinho,
trata-me como uma verdadeira amiga.
Embora minha preocupação com ele seja
autêntica, nunca o trato como um senil.
Ele sabe muito bem de todas as coisas
da vida. Pode não escutar direito, ter os olhos meio virados, ofegar ao
apressar o passo, entretanto seu coração sente quem o admira.
Talvez por pulsar com tanto vigor,
tenha se cansado um bocadinho.
Colocou dois stents semana passada. E
me mostrou a foto do órgão com muito orgulho. Sabe que curti?
Mario Augusto, nome de escritor, um
beijinho,
Da sua,
Veruska
Verinha, que texto lindo, verdadeiro e tão comovente...Mário Augusto não suscitava fraqueza nem vontade de o proteger. Era um homem, na plena acepção da palavra, culto e mordaz e grande companhia para uma conversa informal, bebendo um bom vinho e rindo das coisas da vida.
ResponderExcluirVá com Deus, fique com Deus
Suzana