O CIENTISTA E O
ESCRITOR UM ENCONTRO DIFÍCIL
Oswaldo U. Lopes
O cientista pauta seus escritos
pela mais estrita observância dos fatos que criou ou observou. Tem uma
preocupação constante em estabilizar todas as suas variáveis, menos uma que
esta observando de modo que qualquer variação que encontrar terá sua origem conhecida
e através da estatística procurará resultados que só remotamente poderão ser
atribuídos ao acaso. Os famosos p≤ 0,05 ou p≤ 0,01 encontrados amiúde nos
trabalhos científicos. O que significam tais expressões? Que, do ponto de vista
estatístico, a probabilidade dos resultados se deverem ao acaso são menores do
que 5% ou, melhor ainda, menores do que 1%.
Já o escritor não tem nenhum
compromisso com a verdade ou fato observado. Não se trata de demonstrar nada
nem provar que a possibilidade do acaso é remota. Sua escrita é limitada apenas
pela sua imaginação e a repercussão dela nos leitores, pelo gosto individual de
cada um deles.
É memorável o pânico que tomou conta
da costa leste dos Estados Unidos na noite de 30 de outubro de 1938 quando da
transmissão pela rádio CBS de uma suposta invasão de marcianos. O locutor e organizador do evento era o jovem
Orson Welles, então com 23 anos de idade. Era uma dramatização de um romance
escrito em 1898 por Herbert George Wells (nenhum parentesco, apenas nomes parecidos).
O impacto foi violento e projetou a carreira de Orson Wells para as alturas.
Qual era um elemento importante
dessa ficção? A a existência do possível. Naquele tempo em que a exploração do
espaço era incipiente e de pouca divulgação entre o público leigo, a existência
de vida em Marte e a existência de habitantes nesse planeta era uma
possibilidade tangível. Dai o pânico. Não digo que hoje em dia algumas pessoas
não pudessem entrar em pânico com aquela transmissão, mas uma comoção coletiva
como aquela que aconteceu na noite de 30 de outubro de 1938 seria de todo
impossível. É fato conhecido que não há vida em Marte e que uma possível
existência de água se daria apenas no seu subsolo.
A existência de uma civilização
marciana capaz de enviar naves de invasão para a Terra soaria totalmente
absurda para começo de conversa.
Onde quero chegar? Na importância do
possível na ficção criada pelo escritor. Nada implica que ele não possa
descrever uma invasão marciana ou jupteriana, mas não terá a companhia de seus
leitores seguindo passo a passo sua história, presos a um desfecho
desconhecido.
O
possível não é obrigatório na escrita ficcional, mas faz parte do desejável, do
verossímil. E na ciência? Perguntarão alguns?
Também,
seria a resposta. É conhecida a publicação de um trabalho pelos físicos
americanos Fleischmann & Pons em 1989 relatando a obtenção da fusão nuclear
a frio. Um feito fantástico em oposição às usinas nucleares que conhecemos em
que a fusão se faz em altas temperaturas e com produção de resíduos
radioativos. A comunidade científica simplesmente achava que tal efeito era
impossível (não possível) O trabalho foi devidamente replicado e o efeito não
foi conseguido. A procura da fusão a frio, fonte segura e viável de energia
limpa continua na ordem do dia, mas naquele experimento de Fleischmann &
Pons o possível não fora alcançado.
Em
qualquer gênero literário que se aventure o escritor, na crônica, no conto ou
no romance o possível será sempre o corvo que montado nos seus ombros vai
repetindo fatidicamente:
Será
que isto é possível? Pode até ser desejável, mas é possível?
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