O FANTASMA DA IGREJA - Oswaldo U. Lopes

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O FANTASMA DA IGREJA
Oswaldo U. Lopes

            A cidade era pequena. José também, a Igreja nem tanto. No verão não havia problema, somando a posição do sol com horário de verão a Igreja não lembrava nada. No inverno, quando José voltava da escola, na penumbra, ela com suas janelas redondas e telhado de canto, era a própria imagem de um fantasma. O pároco que a pintara de branco conseguira associar o enigmático ao fantasmagórico.

            Seu Armênio era o farmacêutico do povoado, na ausência ou mesmo na presença do médico, era quem tratava das pessoas. Com esse nome e por causa de um sotaque muito perceptível ganhara o apelido infalível de turco.

            Administrava bem a vida e a farmácia. Tinha terras arrendadas e uma casa muito boa e grande vizinha da Igreja. Como é comum nestas circunstâncias casara, já com certa idade, com moça que de idade tinha pouca e juízo menos ainda.

            Seu Armênio vivia sendo arreliado pelos parceiros habituais do dominó no bar do Seu João. Os moderninhos, por causa da TV, brincavam de chamá-lo de viking. Ai vem o viking, abre lugar para o viking...

            Seu Armênio, aparentemente, não se incomodava, dizia com seu malicioso sotaque:

            — Prefiro comer bolo dividido, do que porcaria sozinho.

            Aparentemente, diga-se bem, quando os rumores começaram a aumentar, passou a andar com um 38 na cintura que se não ostentava, também não escondia.

            Como é que tudo isso se junta?

            Era inverno, já estava escuro na pequena cidade, quando José voltando da escola viu um vulto branco passar sorrateiro na frente da Igreja de celebre ar fantasmagórico. A soma disso foi uma corrida sem par do menino para casa.

            O pequeno José levou muito tempo para recuperar a respiração e a fala. O coração ainda saia-lhe pela boca. De tão assustado nem reparara na janela aberta na casa de Seu Armênio que naquele dia fechara a farmácia mais cedo.

            Talvez ainda, pela pouca idade, não conseguiu associar o rumor estranho que corria a cidade com o que vira perto da misteriosa Igreja.


            Em todo canto, bar ou botequim se comentava sobre o delegado da cidade, conhecido valentão que chegara à delegacia, já noite alta, esbaforido e vestindo unicamente meias e um lençol.

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