A PORTA PEGA GORDO.
Sergio Dalla Vecchio
—Monge Damião, acorde! - exclamou o seu colega -
O horário do almoço já esta por terminar
e o senhor ainda não foi retirar o seu prato na cozinha.
— Ah! meu caro irmão, muito lhe agradeço pela
gentileza do alerta, mas eu estou sem fome e aproveito esse horário para
descansar um pouco. Vá com Deus!
Após o almoço todos os monges voltavam ao
trabalho na lavoura nos arredores do Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça.
Findo o dia, após muitas horas embaixo de sol
escaldante eles retornavam cansados e famintos para o aconchego do Mosteiro.
O monge Manoel, passou por uma porta estreita
que dava acesso a cozinha, fez um bom prato de comida e devorou-o com muito
apetite.
Essa porta estreita era conhecida como a porta pega-gordo. Ela tem 32 centímetros
na sua largura e foi construída propositadamente pelo monge superior com a
finalidade de manter todos em boa forma e impedir um dos sete pecados capitais,
que é a gula. Ela era o pavor dos gordinhos, mas o resultado era perfeito!
Terminando o seu jantar, Manoel passou enfrente da
capela e deparou-se com seu amigo Damião que, de joelhos rezava com muito
fervor.
— Damião, não vá perder a hora do jantar,
pois a comida esta deliciosa e você nem
almoçou hoje?
—Ah, caro amigo! Bebi muita água durante a tarde
e perdi o apetite. Já que não fui jantar me propus a rezar!
Assim a noite passou, amanheceu e todos os
monges participaram da santa missa, cantando os relaxantes mantras Gregorianos.
O som era harmonioso e brindava toda Capela com
a sua suavidade.
Trazia uma intensa paz a todos, Deus ali estava
presente para enaltecê-los e
lembrá-los das suas vocações para o clero.
A missa terminou e todos se dirigiram à cozinha
para fazerem os seus pequenos almoços,
com exceção do agoniado monge Damião. Ele continuou na capela e foi rezar aos
pés de Jesus no grande altar, com muita fé e esperança:
— Meu
amado Jesus eu vos suplico. Dei-me forças para passar por aquela maldita
porta!(perdão Jesus eu quis dizer bendita porta)pois não tenho mais desculpas
para dar aos meus bons colegas e nem de suportar mais as sarcásticas zombarias
de outros. Estou sem me alimentar a dois dias e não tenho coragem para ultrapassá-la
para poder comer o meu pequeno almoço. Estou faminto, por favor me ajude!
Após essa suplica direta a Jesus, Damião ouviu
uma voz suave lhe sussurrando:
— O seu
sacrifício foi grande meu filho, mas ainda não o suficiente. Entretanto, pelo seu esforço vou de lhe dar um
ajuda, mas não comente com mais ninguém e que fique entre nós! Pegue uma faixa
de tecido bem larga e a enrole com força em volta da sua cintura. A sua
circunferência diminuirá e assim você conseguira transpassar a bendita porta.
Assim Damião acolheu a orientação recebida e se
pôs diante da abençoada porta e com coragem a encarou dizendo:
— Se pensas que vais me pegar, enganou-se!
Virou-se de lado, prendeu a respiração e zás! La estava o pobre monge dentro da
cozinha!
— Consegui,
consegui gritava ele!
Recebendo aplausos pela difícil façanha.
Assim após alguns meses, Manoel encontra novamente
Damião aos pés de Cristo rezando e pergunta:
— Não vais almoçar?
— Não vou não amigo. Estou sem fome e aproveito
para rezar. Obrigado, e vá com Deus.
Dito isso, Damião olhou para Jesus com aquele
olhar de suplica e disse:
—
Meu querido
Jesus, muito lhe agradeço pela orientação que o senhor me deu. Ela funcionou
muito bem durante todos esses meses, mas agora estou novamente faminto e não
quero abusar da sua infinita bondade, mas por favor, me conceda uma nova dica!?
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