MENTE VAZIA É OFICINA DO DIABO
M.Luiza
Camargo Malina
No
Mosteiro de São Bento, o canto gregoriano enche os ouvidos, enleva o espírito a
um momento único diferenciado de cada pessoa, por isso torna-se único.
Lá
estava eu voando nos sons que me levaram às nuvens, quando de repente estas
mesmas nuvens foram se escurecendo prenunciando um temporal. Havia tal vestígio
alcóolico, que me desprendeu do espaço. Não aguentei. Voltei-me. Constatei. Era
um belo jovem, muito bem trajado denotando a barba por fazer no rosto roto do
cansaço de alguma noitada. Pensei em mudar de lugar. Não. As pessoas ao redor
com certeza estavam sentindo o paralelo do som do coral como eu. Fico. Não. Não
fico. Levantei-me, importunando toda a carreira do banco. Saí.
Ao
fundo em pé, percebi que o rapaz deixou seu lugar. Estava vindo em minha
direção. Realmente não sabia o que fazer. Situou-se ao meu lado em pé. Pensei
que iria me importunar. Nada disso. Já importunava com o bafo de onça que tive
que suportar.
Ao
término da missa, desconcentrada totalmente, retirei-me às pressas. Foi quando
uma mão tocou de leve meu braço, segurando-me. Voltei. Era o tal bebadaço. Dei
ouvidos a ele, indicando que seguiria o programa comprado da visitação. Ele
também faria o mesmo.
Conversa
vai e conversa vem, já estávamos no café quando ele disse:
—
Já fui coroinha de capela de colégio do interior, sei muito sobre São Bento.
—
Ah! Que bom - concordei secamente.
—
O que eu mais registrei nestes estudos, foram as palavras de São Bento ao dar
ofício aos monges para sua própria subsistência e, ao menos neste mosteiro
seguem as regras, uma vez que o dito popular diz “mente vazia é oficina do
diabo”.
—
Ah que bom que você entendeu, e essa bebedeira toda exalando no mosteiro?
—
Você ainda vai ouvir falar de mim. Sou turista. Passei a noite no bairro boêmio
da capital. Vivencio as noites. Viajo o mundo escrevendo. São Paulo é uma
cidade peculiar, não podia deixar de assistir o famoso “Canto Gregoriano”. Nem
dormi.
Despedimos,
sem trocar contatos, sequer os nomes. Hoje, precisando escrever algo sobre o
Mosteiro de São Bento, pesquisei no Google e encontrei o rapaz de então.
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