A CAVERNA DOS MONTES
Oswaldo
U. Lopes
Já na entrada da trilha da caverna,
Júlio foi tomado pelo medo. Sozinho, não teve vergonha de admitir, estava era com
pavor, muito pavor. Do lado esquerdo o caminho estreito e sinuoso, a direita um
abismo sem fim. Para ajudar uma forte neblina tornava o caminhar na trilha uma
aventura digna de filme de terror.
Se pouco faltasse e ele viu que não
ia faltar, a noite se avizinhava e com ela a escuridão. Para coroar um cheiro forte de ácido fez com
que ele bambeasse e quase caísse, quase desistisse era também apropriado mencionar.
Murilo era seu irmão mais jovem,
arrojado, destemido, explorador e viciado em adrenalina. Parecia saído desses
games modernos, só que para sua enorme tristeza, desaparecido.
As cartas que chegaram após o
desaparecimento do Murilo convergiam para a conhecida Caverna dos Montes e ali
estava ele caminhando pela mata em busca da caverna que ele sabia ficar nessa
montanha, mas na qual nunca entrara ou sequer passara perto. De duas coisas
Júlio tinha certeza: Murilo era seu irmão, nunca dois irmãos foram tão
diferentes. Citadino, culto, leitor paciente e constante, refinado, gastrônomo
reconhecido, Júlio era a antítese de Murilo.
Não fosse o pensar no irmão e nas
dificuldades que este devia estar passando, Júlio teria desistido, ademais
tremia que dava dó. Não bastasse tudo isso escutou um ruído intenso, como que
de raspar que vinha da mata ao redor, era certo um animal, mas qual? Feroz?
Selvagem?
Cercado de pedras soltas, galhos que
lhe batiam nos olhos, raízes nas quais tropeçava e ruído de animais selvagens, Júlio
agarrou-se a algo que parecia uma corda que instalada na horizontal e de tempos
em tempos passava por um anel de sustentação fincado numa estaca.
Desesperado com a situação nem
procurou entender o milagre daquela corda estendida como que a espera dele.
Agarrou-a e começou a andar agora mais firme e seguro.
Lembrou-se
das cartas que recebera após a notícia do sequestro e das instruções recebidas:
Não
avise a policia
Venha
sozinho
Traga
maleta com dinheiro
Só
não trouxera a maleta. Mal conseguia andar naquela trilha com as mãos livres
que diria com uma maleta. Além do que não fora mencionada nenhuma quantia.
Esperava poder resolver esse assunto quando encontrasse os tais sequestradores.
Afinal eles queriam dinheiro e não cadáveres.
O
motivo do sequestro era outra história. Classe média alta lhes caia bem, mas
não nadavam em dinheiro. Não contara nada a seus pais para não assustá-los, mas
sabia que seu pai era capaz de levantar um bom resgate se fosse necessário.
Murilo
era um esportista mulherengo e bem podia ter se metido com a mulher de alguém,
mas nesse caso o sequestrador não ia querer dinheiro, mas sim um corpo
estendido no chão.
Afinal,
não tendo mais nem tripas nem coração, esbaforido e morrendo literalmente de
medo, Júlio alcançou a Caverna dos Montes. Parado na porta lembrou-se, raios só
agora, que tinha uma poderosa lanterna na mochila. Acendeu-a e o que viu
encheu-o de muitas coisas:
Do
irmão
Da
Vida
De
coragem, ainda que tarde.
Lá
no fundo da caverna Murilo gargalhava juntamente com um grupo de amigos,
festejando seu aniversário.
Júlio
entendeu uma porção de coisas:
1-
Não podia chamar seu irmão de fdp
porque a mãe era a mesma.
2-
A corda estendida no momento exato
quando estava no ponto certo para desistir. Murilo o conhecia muito bem!
3-
Já bebera muito com parte do grupo
que frequentava sua casa.
4-
Não ia sentir aquele pavor todo na
volta e isso não tinha preço.
Relaxou,
pediu um copo e serviu-se de uma generosa dose de uísque que era, por sinal, de
muito boa qualidade.
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