AMOR A MODA GAÚCHA
Carlos Cedano
Primeiro olhou
demoradamente a frente da casa, logo a contornou e viu que todas as paredes
eram iguais: tabuas largas de madeira pintadas de cinza na parte de cima e
laranja em baixo. A porta da entrada era de tabuas menos largas, mas de feitura
mais caprichada. Por fora a casa era toda muito bonita em estilo típico gaúcho.
Adorou!
Com certeza os moradores tinham
saído ninguém atendeu seus chamados. Sentou-se do lado de fora bem na frente a
uma janela com cortinas de renda. No parapeito interno dormia um gatinho
tranquilamente. Fora da casa também dormia um cachorrinho branco e preto,
manchado de tinta vermelha. Pensei, se os bichos estão tão tranquilos os donos
devem voltar logo. Mas quanto tempo?
Aproveitei e olhei mais
detidamente os detalhes, sobre tudo a bonita decoração pintada na parte
superior das paredes em volta de toda a casa. Os proprietários podem ser
pessoas simples porem de bom gosto!
De repente o cachorro
levantou-se, ficou inquieto e o gato também, pronto, será que...? De fato, um cavaleiro se aproximava a pleno
galope, detêm o cavalo, desce e diz:
― Buenas Tchê, em que posso servi-lo?
― Vim pelo anuncio que publicou vendendo sua casa.
― Vamos entrar por favor, vou amansar um mate pra nos. Meu nome é Genésio e o seu?
― Francisco e venho de São Paulo. Vou me casar com uma moça
gaúcha e morar por aqui. Desculpe, mas no anuncio você diz que a venda é de porteira fechada, é isso mesmo?
― Sim, isso mesmo.
Aproveitando que o dono
preparava o mate o paulista percorreu a pequena e aconchegante casa.
Todos os móveis em
madeira, leves e bonitos, até pareciam sem uso: mesa, estantes, cama de casal e
armários. As janelas com delicadas cortinas de renda igual aos enfeites sobre a
mesa e estantes. A mão de uma mulher aparecia em cada detalhe. Isto é o que eu estava
procurando ― pensou nosso visitante ― uma pequena joia, Ana Maria vai gostar!
Enquanto o gaúcho
entregava a cuia a Francisco lhe perguntou:
―
Gostou tchê?
―
Muito Genésio! Mas permita-me uma
pergunta, você ia casar?
―
Sim! Como você adivinhou guri?
―
Não foi difícil, a casa parece um “ninho
de amor” com detalhes delicados e de bom gosto, o ambiente ideal para uma
permanente vida a dois. Minha noiva vai achar isto o paraíso!
Enquanto o paulista falava
o gaúcho sentou, ficou com o rosto triste e algumas lágrimas afloraram a seus
olhos. Ficou quieto alguns minutos, se recompus e falou:
― Agradeço suas palavras meu amigo, você está certo e me
abriu os olhos, ia fazer uma barbaridade! Vou reatar com minha prenda e sinto
muito, você ficou sem casa, não vou vendê-la mais!
Só agora Francisco
percebeu seu erro: tinha perdido a oportunidade de ficar calado, falou demais!
Como um sonambulo levantou da cadeira, abriu a porta, saiu, ligou o carro e
desapareceu no horizonte!
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