1978,
VINTE E UM DE OUTUBRO
M.Luiza de Camargo Malina
Voar, mais do que qualquer
impulso, tomou conta de mim. A clareza do dia, o ar magnetizou-me. Era o tempo
do ir.
Tracei a rota facilmente.
Vento a favor. O Cessna brilhava e sorria como um convite à maior aventura que
poderíamos viver. Eu o entendia, era parte de mim.
As lagostas, por um motivo
banal a estrada em que o infinito se funde ao oceano, marcou minha passagem. Os
instantes que se seguiram foram mágicos, a chance de avisar que estava tudo bem a quem
eu bem queria, foi-me concedida, eles entenderiam entre linhas o que não
poderia ser explícito.
A nave mãe aproximou-se.
Era o meu tempo. Relaxei. Novamente senti-me no útero materno. Quente e
aconchegante.
Por uma luz profunda, percebi
o que falavam: “Uma alma pura, conservou-se tal qual o último procedimento,
será muito fácil”.
A nave sobrevoava sobre a
minha. O desejo de transmitir que eu estava bem a quem bem me queria tornou-se
forte e me foi permitido. Eles me entenderiam. Foi rápido e novamente senti o
calor do útero materno a me acolher.
A todos os vinte e um de
outubro vasculho os hangares e sobrevoo no infinito à procura de bem maior. Sinto
que alguém me procura com um sorriso entre as nuvens.
Vivo na inquietude de um
amor sem fim, preso há trinta e sete anos entre idas e vindas.
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