Janela de Copacabana - trágica
Ises de
Almeida Abrahamsohn
Ele
tinha se mudado há pouco para aquele apartamento em Copacabana. Era apenas um
quarto e sala acanhado e escuro cuja janela dava para a área interna abafada do prédio. Era o que conseguia pagar com seu minguado
ordenado. Instalou o seu velho sofá na sala, de frente para a janela e era lá que se estirava ao chegar do
trabalho. Apagava a luz e tirava um cochilo antes
de seu frugal jantar. Ao acordar,
já era noite. Pela janela conseguia ver as janelas dos quartos dos apartamentos
fronteiriços. A maioria às escuras, algumas
com luz acesa rala filtrada através dos vidros borrados de sujeira
antiga.
Naquela sexta-feira,
exausto, adormeceu no sofá mesmo e acordou lá pelas onze da noite. Do sofá notou uma das janelas em
frente, habitualmente escura, iluminada. Desligou o abajur. Surpreso, percebeu
que podia enxergar quase tudo dentro
daquele quarto. A janela límpida permitia-lhe ver indiscretamente as duas
ocupantes. E que ocupantes! Uma morena curvilínea
sentada à beira da cama escovava o cabelame revolto; a bunda generosa e empinada e as pernas
musculosas remetiam a horas a fio na
academia. Não conseguia ver-lhe os peitos, nem
o rosto. A outra moça era loira,
do tipo mignon e tinha uma toalha inoportuna enrolada no corpo. Ficou torcendo
para a toalha cair. Mas a loirinha saiu, seguida pela morena e a escuridão
invadiu o quarto.
Desapontado, foi para
cozinha comer alguma coisa e voltou ao sofá. Tinha perdido o sono. Folheava uma revista sem muita convicção quando,
lá pela meia noite, a janela das vizinhas de novo se iluminou. Imediatamente
apagou a luz e entreabriu a janela da sala para melhor espiar. A morena vestia um pijama comprido e a loira,
shorts e blusa apertada. Via-lhes agora o
perfil. Discutiam em voz alta. De
repente, a loira se adiantou e puxou com um repelão a cabeleira da outra. Sem a peruca, surgiu nítida a calva
masculina. O dono da calva, enlouquecido, agarrou a mulher loira que se debatia e o socava em vão; o
homem era um tanque e imobilizou-a
sobre a cama. Pegou o que parecia ser uma calça de pijama e amordaçou-a.
Depois começou a apertar-lhe o pescoço
com mãos que pareciam tenazes.
O voyeur assustado ligou para o zelador e para a policia. Pôs a
cabeça para fora da janela e gritou, mas
o som não chegou ou, talvez, não
perturbou o assassino. Apenas alguns vizinhos
acenderam as luzes mas não se manifestaram. Medo de se envolver, talvez.
Quando o zelador e a
policia chegaram ao apartamento era tarde demais. A loira estava morta, esganada. O moreno sentado à beira da cama balbuciava
entre soluços: _ Joselito, Joselito ,meu
amor , você foi me cornear logo com o
Militão ! Eu lhe avisei ... Eu lhe
avisei!
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