A SOBRINHA DO BISPO - Carlos Cedano


A SOBRINHA DO BISPO
Carlos Cedano

Os olhares se voltaram para essa formosa mulher! Todos em silêncio! Os homens hipnotizados pelos movimentos sutis desse corpo que denunciava sua genética morena. E as mulheres?  Bom, as mulheres calaram, não existiam razões para falar mal dessa bela obra onde a natureza tinha caprichado!

Como ela é linda! É uma Deusa feita mulher! Pensava Teodoro. Sua cabeça era uma voragem de fantasias que acelerava o palpitar de seu coração! Suzy era sua paixão, a luz de seu dia! Ele não dormia e quase não comia! Ela nunca o olhou e com certeza não sabia de sua existência e menos ainda de seu amor!  Minhas rezas de nada serviram, lamentava-se.

Agora Suzy se aproximava no meio de uma procissão de amigas, rindo e conversando descontraidamente, não parecia que iam pra missa. Uma mulher falou alto: essas meninas de hoje são muito folgadas, olha o tamanho das saias e aquela do vestido preto agarrado então, será que não tem vergonha? Acho que não!  ―respondeu um marmanjo ― e cuidado coroa! Essa aí é a sobrinha do Bispo!

Um murmúrio crescente e um empurra-empurra cada vez mais intenso anunciam a chegada do Bispo Xavier. Ele celebrará a missa neste dia festivo da cidade. Suas vestes iluminadas pelos raios de sol realçam sua figura adornada pela mitra e o báculo, estava um luxo, e quando acenou então, levou a multidão ao paraíso!

O cortejo adentrou a igreja seguida por uma enorme fila que serpenteava ao longo da nave central. O Bispo Xavier foi até a sacristia a trocar as roupas para a celebração e em tom bravo indagou:

        ― Cadê o padre que me vai ajudar a celebrar a missa?

Antes que o velho pároco pudesse responder o coroinha falou:

        ― Ele está lá fora seu pároco!

        ― Vai logo chama-lo! Berrou ele.

O coroinha chegou ao momento que Teodoro olhava fixamente à sobrinha do Bispo, e gritou:

        ― Padre Teodoro, padre Teodoro, você ainda não está pronto? O Bispo e o pároco o estão chamando e estão fulos da vida, viu padre!

Ambos olharam pra o coroinha, a sobrinha sorriu com sarcasmo e disse para Teodoro:

        ― Então padre Teodoro, cadê a batina? Padre e safado, né! Retomando logo seu caminho e com o rosto impassível!

Se alguma vez Teodoro teve um mínimo de esperanças, agora podia ter a certeza de que seu amor tinha acabado antes mesmo de nascer!


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