O Dilema do Impressionismo - José Vicente J. de Camargo

Vinhedo Vermelho - Van Gohg - única obra que foi vendida em vida.


O Dilema do Impressionismo
José Vicente J. de Camargo


Vida de artista é ingrata, principalmente se for de artes plásticas, pintor!

Veja o caso de Van Gogh que vendeu um só quadro enquanto vivo ─ ao seu irmão que era marchand de arte ─ e hoje cada um vale milhões de dólares! O valor de um só quadro daria, não só a ele, mas a todos os demais pintores impressionistas da sua época, por sinal todos pobres ─ uma vida de milionários. 

A importância deles na pintura só foi reconhecida depois de suas mortes, já que o impressionismo é considerado a porta de entrada para o modernismo. Os impressionistas abandonaram os recintos fechados das academias para a liberdade do espaço aberto da natureza, integrando o homem e demais seres vivos neste cenário vibrante de luz e cor. É a luz atuando na transfiguração das formas, na substituição das linhas e contornos por traços de pinceladas de cores fortes ou simplesmente por pontilhados, todos refletindo embevecidos a luz ambiente.

Amadeu ouvia com atenção as palavras do professor da aula de artes plásticas da última série do segundo grau. Sua intensão era de prestar exame para a faculdade de engenharia, embora sua inclinação estivesse nas artes plásticas, justamente na pintura. Todos diziam, vendo seus desenhos em grafite ou guache, que tinha dom. Mas relutava em fazer disso sua profissão principal ─ como hobby tudo bem. Sentia a dúvida da sobrevivência, da incerteza do sustento necessário, da dificuldade do reconhecimento do seu talento em vida, pois esse negócio de honras póstumas não lhe interessava nem um pouco. E a aula do professor só vinha a reforçar suas suspeitas e justamente no estilo que mais o atraia e pretendia seguir: o Impressionismo...

O sinal de término da aula soa e inicia-se o corre-corre apressado para aproveitar o curto tempo de pausa até a próxima aula. Sentada ao seu lado, desde que se conheceram e se confidenciaram que estavam “ficando”, Lina o apressa para irem à lanchonete do recreio.

─ Vai indo que antes quero dar umas palavrinhas com o professor, diz Amadeu.
Passado um tempo, ele a encontra mastigando seu lanche preferido.

─ Puxa, como você demorou! Agora vai ter de engolir sua coxinha, diz Lina.

─ É que as palavras do professor na aula de hoje, me ressuscitou o dilema se faço a faculdade de  plásticas ou a de engenharia ─ responde ele. E no meu bate-papo com ele, me disse que essa questão é muito pessoal e que a tenho de resolvê-la sozinho.

─ Dê uma de Van Gogh! Retruca Lina. Você tem talento, gosta de pintar e basta! Faça artes plásticas e curta a natureza.

─ É, mas na hora de por a comida na mesa, como faço?

─ Faça como ele deve ter feito! Admire as naturezas mortas que de tão belas, dão a impressão de serem verdadeiras de saciarem os olhos e, por consequência, a barriga... Depois, hoje existem as redes sociais e de solidariedade, que não deixam nenhum artista morrer de fome. E a medicina está super adiantada.  Com certeza você vai viver muitos anos e vender muitos quadros e, conclui ela:


"Vamos aproveitar os milhões de dólares, mas nada de impressionismo! Na realidade mesmo”...

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