A crise do talento
Judith
Cardoso
Mariana
aos quatro anos de idade já gostava de dançar. Seu pai dizia que ela mal sabia
andar, mas já sabia dançar.
Entrou
na escola de ballet e dançou muitos por muitos
anos. Era sua maior alegria se ver no palco e, quando a música começava, ela não
se continha. Dançava com a alma e era seu status mais autêntico.
Qualquer
ocasião de apresentar sua performance, ou sempre que surgia ocasião, lá ia ela
com as sapatilhas e os discos para se apresentar.
Uma
ocasião, na escola em que estudava, apareceu uma professora, com provável baixo
nível de instrução e inteligência. Esta, para enriquecer suas pobres aulas,
colocou um dos discos que Mariana sempre carregava, a tocar. Mariana
rapidamente aprontou-se para representar sua dança.
Qual
não foi a surpresa? A Mestra ajustou para rotação inadequada ao tipo de disco,
mais lenta, muito mais lenta. A então criança Mariana, educada para respeito
aos mais velhos, ainda mais professores, não se pronunciou.
Sua
tentativa de ajustar sua dança ao nível distorcido de rotação, mostrou-se um
fracasso. Coitada!
Mariana
dançava e dançava a interminável e distorcida melodia, monótona e
ininteligível, perdeu sua graça habitual e autoconfiança.
Sua
decepção e falta de arte passou à plateia que mal a aplaudiu ao final da apresentação. Plateia insatisfeita e dançarina
desiludida.
Apesar
de sua ótima aptidão e vocação para o ministério de dança e intenções de
personificar uma futura bailarina de brilho chocou-a profundamente essa
situação.
Essa
intensa crise desencantou-a, para sempre. Nunca mais quis dançar.
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