Quem
era aquela mulher?
Suzana da Cunha lima
Uma linda mulher: rosto de camafeu, onde se destacavam olhos grandes, cor de âmbar, curiosos, quase
brincalhões. A pele branca e macia descia pelo colo onde arfavam seios fartos e firmes. Seu vestir revelava
sutilmente um ventre redondo, coxas generosas e pernas longas e ágeis. Seu olhar brilhava ao falar, pouco mexendo os lábios carnudos. E todo seu
corpo transpirava sensualidade, no andar dançarino, no mexer dos longos cabelos
e no sentar provocante.
Conservou-se assim durante
anos, apesar da vinda dos filhos e ninguém sabia ao certo sua idade. Altiva, dominadora, dirigia sua casa com mão
de capataz. O marido era um mero
coadjuvante nesta colmeia familiar e ela,
a rainha-mãe, em torno da qual todos orbitavam, prontos a satisfazer
seus gostos, desejos e prazeres.
Mas a vida prossegue, os
filhos crescem e vão constituir suas famílias fora das vistas da abelha-rainha.
Os netos chegam, porém pouco a visitam e ela quase não percebe quanto poder
perdeu e como o comando da família está lhe escapando das mãos. Pois nem ela
mesma resistiu ao tempo, senhor implacável que aniquila os sonhos, e tributa
duramente a beleza estéril que não produz frutos. E um dia, ao se ver sozinha na casa grande,
silenciosa e escura, deu-se conta da extensão de suas perdas e danos.
— Onde estão as crianças?
— Onde seus admiradores,
os olhares cobiçosos, os flertes disfarçados, onde estavam sua corte e seus
súditos?
— Onde aquele riso alegre?
Aquela pele de seda e aquele olhar sedutor, aquela bela cabeleira cor de mel?
Já não tinha força em suas
mãos tão enrugadas, nem em suas pernas combalidas. O coração ressecado que não
aprendera a amar, apagara o riso e a luz de seu olhar. Ele mesmo murchara como
flor sem rega e sem cuidado.
E olhando-se ao espelho
com mais atenção, encontrou apenas uma velha senhora carcomida pelo tempo e
pelas ilusões perdidas num mundo que já não compreendia.
- Quem era aquela mulher
ali no seu espelho?
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