Apatia Positiva
José Vicente J. de Camargo
Foi essa a sensação que
tive ao avistar a casinha de madeira simples, mas aprazível ao pé do morro dos
macacos. Estava a praticar um dos meus passatempos prediletos ─ o de caminhar
no campo ao entardecer ─ quando me
deparei com ela. Transmitia um ar de paz e harmonia que me obrigou a parar para
observá-la.
Logo minha imaginação se
desperta do marasmo rural e me bombardeia com perguntas:
─ O cachorro bem tratado,
com jeito de ser de raça, deitado no alpendre, meio apático, pois não abanou o
rabo ao me ver, de olhar tristonho e vago,
está a espera da volta do dono, ou sente a tristeza de uma ausência
prolongada?
─ E a cadeira vazia, lustrosa,
encostada a soleira da porta, está à espera de quem?
─ E o piso de cimento
recém encerado e as paredes ainda transpirando a tinta fresca, indicam os
preparativos para a acolhida de um ente querido retornando de uma longa
ausência, ou são sinais de cuidado e asseio de antepassados europeus?
─ Me intriga o vulto de um
segundo cachorro, mirando com tranquilidade o forasteiro curioso, através da
vidraça fechada e semicoberta por uma cortina alva de tafetá rendado. Estará
ele fazendo companhia para um dono curtindo a sesta após um dia de trabalho
árduo na lavoura, ou de castigo por ter brigado com seu par deitado na varanda?
Meu
espírito se acalma e me cutuca satisfeito para prosseguirmos a caminhada
levando as dúvidas da imagem da casinha que para mim tem sabor de “Saudades que o tempo não consome”...
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