A
Espera
Suzana da Cunha Lima
Depois de muitos anos ele,
afinal, chegou à casa. Sua casa! Onde nascera e vivera até o fim da
adolescência, casa onde escondia seus
sonhos, atrás da janela, sempre à espera. A cortina branca, muito alva,
balouçava a menor brisa, e lá ficava ele, enrolado nela e nos seus sonhos. Seu olhar se alongava para além do
portãozinho de ferro e ia célere até a curva da estrada velha. Mas aquele
alguém tão sonhado nunca apareceu.
Lembrava-se ainda da
construção da casa: seu pai e seu tio levantando os mourões, alisando as
tábuas, envernizando e colocando as telhas. As eiras foram trabalhadas em ferro
por seu pai, grande serralheiro. Os mais
velhos desejavam que a casa tivesse a mesma aparência dos chalés de sua
distante terra natal.
E quando ficou pronta, a
casa se assemelhava muito às lindas construções da Estônia, de onde tinham
vindo, pequenos de altura e grandes de esperança.
Ela se destacava das
outras em volta, por ser muito personalizada, muito elegante e com um ar
acolhedor, até mesmo pelo doce cheiro de bétula que rescendia ao sol.
Na varanda da frente, com
bela parede de madeira envernizada havia sempre uma cadeira, feita pelas hábeis
mãos do tio marceneiro, que pontificava: “as varandas devem ter sempre uma
cadeira para o amigo que chegar.”.
Mas ele nunca vira ninguém
ali sentado. Foram anos de uma longa e vã espera, esperando um alguém que nunca
apareceu. Os jovens vão embora, os
velhos morrem e as famílias se dissolvem, pois quem saiu raramente volta.
Ele tinha voltado, na
louca esperança de encontrar alguém ali sentado, à sua espera.
Mas embora tão bela e tão
bem conservada, a casa de sua infância não acolhera ninguém durante todo aquele
tempo.
Nem mesmo aquele alguém
por quem esperara a vida inteira.
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