UMA HISTÓRIA DE AMOR - Oswaldo Lopes


 

                 UMA HISTÓRIA DE AMOR
Oswaldo Lopes

                 Como escrever uma história de amor nova e com metáforas? Difícil, não pelas metáforas, se agente não as tem, inventa-as. O problema é ser original. Se o fim é triste ou trágico é Romeu e Julieta ou o amor de Pedro por Inez, se acaba bem é Cinderela ou Branca de Neve. Se quiserem uma de nosso tempo é a de Charles e Dianne. Na música sertaneja a Cabocla Tereza conta uma linda história de amor que acaba em traição e morte

                 Thomaz era ouvidor e poeta. Poeta interessante diga-se. Marilia era moça solteira e solteira morreu, ele casou do desterro. Encontraram-se no Panteon da Inconfidência mesmo assim em salas separadas. Cláudio Manoel da Costa, bom poeta também, satírico, inteligente. Enforcou-se, ou melhor, foi enforcado na prisão. Sua mulher, Bárbara Heliodora, enlouqueceu e foi enterrada não se sabe aonde. Uma lápide em sua homenagem foi colocada ao lado da de Marilia (Maria Dorotéia) na famosa sala ao lado.

                 De trágicos amores se enche a memória, mas será que todo amor para ser grande precisa ser triste, como queria o poeta? Não foi o caso de Dorival Caymmi e Stela Maria, três filhos encantadores e uma vida juntos muito feliz.

                 Bem o nosso personagem se chamava Antonio. Não, não era aquele que ia casar com a filha de João, mas na hora agá Pedro fugiu com a noiva. Aliás, é melhor corrigir chama-se Antonio, porque não morreu e acabou tendo uma vida feliz com a amada Yolanda. Casal moderno ele analista de sistemas, ela arquiteta. 

Conheceram-se num restaurante de gente jovem, típico das ruas aonde há grandes escritórios. Comida de boa qualidade e não muito cara. Sentaram-se na mesma mesa por falta de espaços solitários o que é freqüente nestes lugares. Daí a conversarem foi um pulo. Quem puxou conversa? Ela. Tempos modernos, mulheres mais independentes e com mais certezas de vida. Longe ainda do que gostaríamos, mas pelo menos já é visível.

                 Antonio era mais tímido como é frequente ver nos dias de hoje. Não chegava a túmulo, mas era calado. Não pensem mal dela. Era conversadeira, mas não era chuchu que dá em qualquer canto. Enfim, casal dos tempos de hoje. Encontraram vários pontos em comum. Ele gostava de música caipira, afinal nascera em Sorocaba, ela também gostava. Música clássica ela até entendia e ele gostava. Foram a consertos da OSESP, como convinha a casais jovens que não têm muito dinheiro para gastar. Livros liam certamente, mais de um por ano. Ele na história e ela no romance. Filmes? Juntou-se a fome com a vontade de comer. Não suportavam os filmes mais atuais de games, de ações e efeitos fantásticos. Cinema mais intimista era com eles, não necessariamente europeu. Ela gostava de Woody Allen, ele detestava. Eram absolutamente normais como se vê.

Fizeram planos e nos planos apareceu um apartamento, como ganhavam relativamente bem conseguiram um bom financiamento e o prédio ficou pronto. Comunicaram aos pais, que hoje não tem mais aquela história de pedido de casamento, apresentar o noivo a família etc.

Após curta viagem foram morar no apartamento,  e a vida seguiu seu rumo. Dois filhos, um casal como convém, um amor sincero e justo e a vida por construir.

Competentes, cada um no seu ramo, não tinham grandes dificuldades financeiras. Tiravam férias e não carregavam pedras à lá Sisifo. Quando os filhos estavam dormindo gostavam de ver a lua cheia na varanda, no meio do silêncio que a hora e a altura permitiam. O que os diferenciava de outros casais para merecerem ter uma história própria. Tinham consciência de sua felicidade e sabiam por que caminhavam para um final feliz.

Um grande amor não precisa necessariamente ser triste nem jogar água para fora como o Rio de Piracicaba.

Antônio e Yolanda pareciam comuns, mas não eram. Uma luz muito forte saia deles e, acreditem, nem o carro de Apolo, brilhava tanto.

  Um final feliz ou como dizem os cínicos:
 Final feliz é apenas uma história que não chegou ao fim.

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