A baronesa de São Jorge - Mario Tibiriçá



A baronesa  de  São Jorge
Mario Tibiriçá

O enterro do  Comendador  Barão de São Jorge, mais parecia uma festa, centenas de pessoas  acorreram, choraram, cantaram  quase  festejaram o acontecimento. Muitos vieram enquanto outras tantas mandaram telegramas  de pêsames e cumprimentos  chorosos face a triste  ocasião.

O barão, Comendador  Jorge Aurélio Texeira Gonçalves de Souza, executara importantes obras aos munícipes de Mundiará, onde falecera aos  noventa e seis anos.

Nos últimos anos do Império, fora  homenageado pelo  imperador  Pedro II  com o  título de  Barão de São Jorge.

Quando jovem  prestara relevantes serviços ao império, e  com seus inflamados discursos no  parlamento,  cooperava com o Imperador Pedro Segundo, na administração do império.

Homem de temperamento alegre, tinha sua falha na incessante procura pela mulher ideal, e como sempre acontece, apaixonou-se por uma jovem comerciária do setor de doces. Maria Aparecida Custódio Ferreira de Lima, de  22 anos, linda morena de profundos olhos verdes e açucarados lábios. Infelizmente moça  de  poucos recursos, trinta anos mais jovem que o Barão, que  também apaixonou-se por ele.

Em pouco  tempo casaram-se  na matriz  da cidade de  Mundiará onde  fixaram  residência e onde infelizmente o Barão veio a falecer.

No decorrer da vida,  D. Maria Aparecida, sempre valorizou o título de baronesa, embora não tivesse qualquer direito a esse uso, e agora  após a morte do  Barão sempre se fazia anunciar como  Baronesa de São Jorge.

Tornou-se uma senhora nervosa, irritante, irrequieta, e implicante. Não suportava mais a mediocridade  do município, comparecia aos eventos dos colégios da cidade, criticava os alunos pela  inconstância nos  estudos, preguiça, e falta de respeito. Exigia sempre que lhe beijassem as mãos na apoteose  do absurdo.

O jovem garoto Josué, líder  da patota  da municipalidade, já  farto das críticas e repreensões da Baronesa, resolveu  que haveriam de lhe dar o troco.

Reuniu a turma  no campo de  futebol e resolveram para começar pregar algumas peças na  metida senhora baronesa, através dos altos muros da audácia.

A fim de ofendê-la, juntaram  um dinheirinho e compraram u’a mula que deram o nome da baronesa. Soltaram balões  para caírem com perigo na casa  dela, e jogaram pedras nos vidros da  mansão da baronesa.

Esta por sua vez, notou que os  garotos andavam descalços e não tardou em colocar muitos cacos de vidro junto  às diversas portas de sua casa. Não  gostava dessa  situação de intransigência com os meninos, porém não admitia o desrespeito, afinal  era uma senhora  de mais de sessenta anos com uma vontade inútil de chorar.

Através de informações diversas os garotos descobriram que o titulo do Barão era apenas  dele  e não extensivo á mulher, assim  espalharam por todo o município a falácia  da baronesa. A mulher, não a mula.

Até que um dia, abateu-se  pela  cidade  terrível praga, onde morreram jovens, adultos e velhos e a simples iniciativa da baronesa em  tratar  a água de consumo da população, benefício  espalhado por todo o município,  e que salvou algumas dezenas de pessoas.

Hoje  em dia o município  de Mundiará chama-se  Município Baronesa de São Jorge.

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